29 outubro 2006

Luto

Este blog estará de luto por 3 dias, pela confirmação da morte da dignidade, executada pela gente ignorante (ainda que letrada) deste país.

Neste ínterim, deixo todos com a frase lapidar de Ruy Barbosa, patrimônio intelectual do Brasil, proferida quando de sua derrota para o Marechal Hermes da Fonseca, na eleição presidencial de 1910:

"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto."

Quase 100 anos depois, alguém que faria Hermes da Fonseca parecer um doutor de Harvard vem, com sua vitória, confirmar que este país é uma lástima. Mesmo durante os anos do governo militar e depois dele, mesmo durante a hiperinflação e a era Collor, nunca disse o que digo agora: Eu tenho vergonha de ser brasileiro.

28 outubro 2006

Ainda dá tempo?

No último post desanquei a campanha de Alckmin. Pode ter sido até culpa de seus marqueteiros, mas é o candidato o responsável por concordar ou não com as propostas.
Alguns podem me criticar dizendo que não deveria criticar Alckmin neste momento, que estou ajudando Lula. Pensei sobre isso antes de postar. Mas, se debates em rede nacional não conseguem desviar o eleitorado dessa rota de colisão com uma montanha de excrementos, que dirá esse reles blog de 4 visitas por dia... sem contar que campanha ruim não é motivo para alguém mudar de candidato. Isso é coisa de gente superficial, e tenho pra mim que os superficiais já estão com Lula.

Mas esse post é para dizer que finalmente fiquei satisfeito com um debate. Não foi a saraivada que eu desejava a princípio, mas confesso que o resultado foi muito bom. Acho que desejava a saraivada porque queria algo como uma vingança, algo tipo quebrar a perna do artilheiro (se bem que nesse quesito, Lula está mais para Maradona, que faz gol com a mão (mão grande, inclusive) - detesto essas metáforas futebolísticas, que me lembram o Apedeuta, mas elas insistem em aparecer.

Alckmin foi beneficiado com as regras do debate: o tempo curto para as respostas não deixava ele falar demais, como de costume, e não dava margem para os malabarismos de Lula. Lula não fica a vontade quando não pode falar o que quer, e isso atrapalhou seu jeito malandro de ser (e de governar, com a malandragem do lado - e não falo da malandragem de Moreira da Silva, que me perdoe de onde estiver). Com isso, foi Alckmin que teve as boas tiradas. A Lula coube apenas a vontade de esfregar o dedo nas fuças do outro (nada difícil, é verdade). A melhor da noite foi ver Lula se defendendo da privatização da Amazônia. Nada como provar do seu próprio remédio, não é?

A alegria fica. O difícil é confrontar a realidade que pode ter sido em vão. Mas vou cuidar de manter a esperança viva! Se puder mudar um voto amanhã, eu o farei!

Antes de dormir:

Nas garimpagens da noite, entre blogs e comentários, bom mesmo foi o texto/áudio do Grix Fronte, sobre o valor do voto. Recomendo ler, ouvir e guardar para reler toda vez que sentir vontade de desistir e anular um voto ou coisa pior.

(Finalmente um post curto!)

27 outubro 2006

Cachorro morto não se chuta?

A esperança é, sem dúvida, a derradeira força do ser humano. Ela resiste, quando tudo é adverso. Não a abandono, mas não posso deixar de dar ouvidos à realidade que não apenas bate, mas esmurra à minha porta, me esbofeteia no rosto, gritando: "Esse país não tem jeito!"
Essa realidade me mostra que foram feitas escolhas erradas. Não falo da escolha de Alckmin. Ao contrário de muitos, não desejava José Serra (votei nele na eleição passada porque era o adversário de Lula, mas não é do meu estilo). Preferia Aécio Neves, mas ele é muito esperto para se queimar assim (na verdade preferia alguém decente, mas esses não se metem com isso). Para mim, apesar de ter ganhado no 1° turno em SP, Serra também não levaria, se sua campanha fizesse as mesmas escolhas. E que escolhas foram essas?

A primeira escolha aconteceu antes da eleição, quando todos acreditaram no triunfo da decência neste país. Não quiseram fazer de Lula um mártir operário (tal como aconteceu com Collor em diversos segmentos, que alegam que ele foi deposto sem provas porque queria "mudar o país"), mas deixaram o tempo curar as feridas abertas pela traição de Roberto Jefferson. Se encolheram atrás de seus próprios pecadilhos e deram trégua ao barbudo. "Não se chuta cachorro morto", certamente pensaram, sem reparar que era um lobo que apenas dormia (ou fingia).

Como disse, não questiono a escolha de Alckmin. Ele estava atrás de Serra nas pesquisas, mas sabemos que um BOM marketing elegeria até a Marta, a mãe-megera da novela "Páginas da Vida", vivida por Lílian Cabral. Também não vou destilar aqui a teoria da conspiração, o propalado acordo com o PT loteando esta eleição e a outra. Afinal, o PSDB não nasceu ontem. Quem, em sã consciência, iria fazer um acordo clandestino com a cúpula petista, reconhecidamente formada por mentirosos e golpistas de carteirinha? Se Lula desse uma banana para Serra e Aécio, o que iriam fazer? Vir a público denunciar? Seria um suicídio político dos dois, do partido inteiro! Alckmin foi escolhidi porque peitou o partido e, principalmente, proque estava disposto a enfrentar Lula. Provavelmente era da turma que estava vendo o cachorro morto. FHC e companhia talvez já tivessem percebido que era lobo, e pensaram: "o que vier é lucro". E lá foi Alckmin de "boi de piranha".

Peraí! Então eu estou dizendo que ele já estava derrotado antes de começar? Não. Estou dizendo que Alckmin não tinha uma vitória fácil pela frente, como muitos (inclusive eu) pensavam quando o mensalão estourou. Naquela ocasião, achei que até o Enéas ganharia de Lula. Como eu já disse, julguei os outros por mim. Achei que a esmagadora maioria dos brasileiros tinham vergonha na cara e colocariam isso em primeiro lugar. Não elegeram o Lula, que a lógica apontava como incompetente, porque era honesto? Com aquele escândalo ele "estava no sal". Mas De Gaulle tinha razão...

Ao subestimar a "blindagem" de Lula, a aura protetora que ser o mito do "homem simples que chegou lá" lhe concedia, Alckmin escolheu o caminho errado para sua campanha. Em vez de fragilizar esta blindagem com fogo contínuo, preferiu ignorá-la. Confiou no julgamento ético do povo e se dedicou a fazer uma campanha para prefeitura: promessas, obras, a imagem de trabalhador. Esqueceu-se que a classe política, seja de esquerda, direita ou centro (que aqui são aqueles que ficam no meio da balança e escorregam para o lado que estiver melhor), está completamente desmoralizada. Se um cidadão honesto se candidata, imediatamente recebe a pecha de oportunista. Por isso, promessas e obras não mais cativam eleitores. "Ele vai esquecer tudo depois de se eleger...", pensam os votantes. Nesse caso, o candidato à reeleição leva vantagem, porque ele só precisa dizer que continuará fazendo. Se o povo comprar essa idéia (mesmo que mais da metade ele tenha feito perto das eleições), fica fácil. Já a imagem de trabalhador não diz muito. Afinal, em 2002 elegeu-se alguém que passou 13 anos sem fazer absolutamente nada.

Alckmin tinha como bordão "Por um Brasil decente", mas seus programas eram superficiais para falar na indecência. Achavam seus assessores que o povo se lembrava do mar de lama petista ou pensavam que martelar a idéia seria contraproducente? Faltou inteligência na campanha de Alckmin para abordar o problema de um forma nova, que não fosse a simples repetição de escândalos. Por que não explorar as contradições do governo Lula com sua campanha? O que disse e depois disse o contrário durante as crises? Por que não mostrar escândalos em países desenvolvidos e como o povo reagiu na urnas? Deveria ter explorado a vergonha de um povo em reeleger corruptos, mas preferia "falar do futuro". Acabava por transmitir a idéia que tinha telhado de vidro.

No fim das contas, sua campanha teve uma sobrevida graças a uma fenomenal burrada de seus adversários. Tão incrivelmente burra que até uma conspiração parecia plausível. Lula foi associado à mentira, à corrupção, o momento certo para reavivar a memória. Isso foi feito? Uma única vez. E voltou-se atrás com o rabo entre as pernas ante a primeira reação do adversário, que paradoxalmente acusou um erro onde houve acerto. Alckmin defendeu o passado? Não. preferiu descolar-se dele, como se fosse um passado sujo.

A campanha de Alckmin foi uma pregação aos convertidos. Arrisco afirmar que, no dia 29, salvo se um milagre nos salvar, ele receberá os votos dos que já haviam decidido votar nele. Os que o conheceram e confiaram durante a campanha recuaram diante de tamanha apatia. Se depois de tudo que aconteceu, Lula ainda se mostrava competitivo nas pesquisas (muito antes da campanha começar), estava evidente que o povo não tinha uma percepção realista do seu governo. Gostando ou não, concordando ou não os letrados com seus métodos, Lula manteve a inflação baixa, manteve a cesta básica estável e o país não quebrou (cresceu pífios 2%, mas não regrediu, o desemprego não ficou mais gritante do que estava). O povo não pode entender as implicações macroeconômicas do câmbio, da dívida pública ou o superávit primário. Querer que o povo compare com o crescimento do PIB da China (Pibe? Mas o que é pibe?), que saiba o que é Taxa SELIC (taxasselique?) é demais, para uma gente que não sabe nem o que é porcentagem. Povo não sabe o que são commodities! E foi contra esse "bem sucedido" (hahaha) presidente que Alckmin decidiu destilar toda sua competência. Tome saúde! Tome (pasmem) segurança! Tome crescimento! O tecnocrata contra o manipulador. A lógica fria contra o fanatismo e a ignorância.

O desafiado escolhe as armas. Lula escolheu a emoção e a mentira. Alckmin não soube manejá-las e nem voltá-las contra o oponente. Ele pode ter desejado dar uma lição de decência, mas o que melhor ensinou foi como não fazer uma campanha para a presidência.

22 outubro 2006

Velho, me arruma 100 reais?

Há, no Brasil, uma visão completamente distorcida da função do Estado. Basta haver qualquer problema e você ouvirá alguém dizer: "O governo precisa fazer alguma coisa!". Claro que em muitos casos a necessidade de intervenção do governo é óbvia, mas o que chama a atenção é a intenção dos que clamam pelo Estado: não querem a sua proteção, mas sim a sua generosidade.

Não se espera no Brasil o Estado regulador, que zele pelas leis, pelo direito dos cidadãos, mas sim um Estado paternal, que provenha as necessidades materiais da população. As pessoas agem como aqueles filhos marmanjos que relutam em arrumar um emprego e querem viver às custas dos pais a vida inteira.

Muitos fatores levam os filhos a este comportamento, e normalmente reside nos próprios pais uma boa parte da culpa. Pais que proporcionam uma vida confortável aos filhos sem exigir deles nenhuma contrapartida (respeito, dedicação aos estudos, satisfação de seus atos e submissão às conseqüências destes, enfim: responsabilidade) acabam criando filhos preguiçosos. Claro que a personalidade dos filhos influi, mas nesse caso "fechar as torneiras" é uma saída que qualquer pai sabe, a não ser como ouvi certa vez uma senhora justificar o dinheiro que dava ao filho, dizendo: "tenho medo dele roubar...". Desnecessário comentar a convicção dela quanto ao arcabouço moral que ofereceu à criança.

Da mesma forma tem agido o Estado brasileiro desde a sua criação, em 1822. No Império, evidentemente, como em qualquer monarquia do século XIX, o Estado não era do povo, mas da Família Real, e vivia para favorecer aos nobres. O povo ficava com migalhas, quer para massagear o ego dos governantes, quer para evitar uma revolta incômoda (a acalentada "indole pacífica" de nosso povo nunca deu margem à preocupação de uma revolta perigosa, à exceção, talvez, da Revolução Farroupilha). O mesmo aconteceu na República Velha, até que Getúlio Vargas veio para tirar o "jejum" do povo. Ele se tornou o "Pai dos Pobres" e criou a imagem de Estado que persiste até os dias de hoje: um governo que ajuda, que cria dependência, que não investe na erradicação das causas, mas no abrandamento das conseqüências. Um governo que deseja uma relação feudal: o senhor e seus vassalos.

Desde então, o povo quer o Governo bancando tudo. O Estado, como não deve visar lucro, fará o melhor para a população, como se lucro e bem estar fossem conceitos necessariamente antagônicos. Este é o Grande Dogma da Esquerda: a satanização do lucro.

Quando Karl Marx demonizou o capital como meio de exploração dos trabalhadores, era o início da Revolução Industrial e o Estado como uma síntese do povo não existia. Sem esse elemento regulador, não havia como fugir do abuso e a filosofia era "Lucro 100 X 0 Homem". Mas se o Estado cumprir seu papel de vigilante dos direitos do povo, o lucro é a mola-mestra do progresso. Esse é o conceito de um Estado Moderno, um conceito que a esquerda, cristalizada no século XIX, se recusa a entender. Insistem no monopólio estatal que, sem lucro e sem concorrência, nada tem a perder. Se nada tem a perder, por que investir em eficiência? Se o cliente (o povo) não tem opção, de que adianta reclamar? E todos fingem que são felizes... é isso?

Que lugar melhor para proliferar uma idéia dessas que numa terra onde se cresce ouvindo que dinheiro e pecado andam juntos, que trabalhar para "ganhar o pão com o suor do rosto" é o castigo de Deus aos homens por terem desobedecido a Ele, e que "é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha que um rico entrar no Reino dos Céus"? Aqui, a maioria quer ficar rica na moleza, ganhando na loteria para parar de trabalhar, com uma ponta de remorso porque ficar rico é comprar uma passagem para o inferno.

Enquanto isso, nas nações desenvolvidas acredita-se que o trabalho foi o meio dado pela Misericórdia Divina para a redenção do homem, e que a riqueza honesta é resultado da riqueza de bençãos. Ter dinheiro não é pecado, isso depende do uso que se faz dele. As pessoas são admiradas por sua capacidade de ganhar dinheiro (e execradas quando meios ilícitos de conseguir são revelados). Lá, o mérito é reconhecido, enquanto aqui as pessoas de valor tem que ser modestas. Se destacar demais significa isolamento social.

Lá, o Estado existe para exercer, principalmente, o poder de polícia (não é à toa que esta palavra tem origem semelhante a política, e não é pelo motivo que a petralha consagrou recentemente); para fiscalizar, fazer leis que representem a vontade do povo e exigir seu cumprimento. Existe para garantir os direitos, como a igualdade de oportunidades, com educação para todos, por exemplo. Para isso recolhe impostos de todos, prestando serviços para todos.

Aqui não. Acá, o "bonito" é todo mundo ser "igual", é distribuir a pobreza, é depender do "Grande Irmão" que zela por todos, sem inveja, sem cobiça (e a preguiça, onde fica?). Assim se faz a apologia da mediocridade e fica-se a sonhar com o progresso, sonhar com a riqueza, sonhar com o bem-estar social. Como o filho preguiçoso, se sonha com a herança que se dilapida a cada dia. Afinal, ficar sonhando também sai de graça... ou não?

Quem vota em Lula?

Quando os escândalos estouraram no ano passado, pensei que era o fim. Não o fim de Lula, não o fim do partido, porque sei que a nossa justiça não é exatamente a mais rigorosa do planeta. Além do mais, havia aquela história de "preconceito contra o operário", as teorias conspiratórias (como esta última da Carta Capital) que iriam botar panos quentes. Eu pensei isso sim, que era o fim da arrogância petista, o fim do patrulhamento, a destruição da imagem de "salvadores da pátria".

Um ano depois, mal consigo acreditar: o fanatismo, as bandeiras vermelhas, o patrulhamento continuam. Menos intensos, é verdade, mas descabidamente presentes diante da demolição dos valores tão cultuados pelo partido (o que me leva a uma conclusão, mas isso eu falo outro dia). Não que eu esperasse que todo mundo deixasse de ser petista (embora quisesse), mesmo porque não sou radical a ponto de achar que não existe gente decente no PT, mas que a coisa ficasse mais "normal", até tímida. Talvez seja porque eu tenho vergonha na cara. Não deveria pressupor que os outros vão agir como eu agiria...

Hoje vejo o noticiário, as pesquisas, os adesivos nos carros e tento entender o que está acontecendo. Tentei encontrar o motivo das pessoas votarem em Lula. Só consegui pensar o seguinte:

1. Os apaniguados: a grande maioria deste tipo é petista (filiada ou não) ou ligada a um. Ocupam um cargo na administração atual e evidentemente não querem perdê-lo. Outros receberam algum tipo de benefício profissional ou corporativo deste governo e se sentem em dívida ou esperam mais. No primeiro caso eu até poderia entender: para a grande maioria, é difícil pensar em ética quando a sobrevivência ou o conforto está em jogo. Mas há aqueles que têm plena condição de se manter fora do governo: profissionais capacitados, inteligentes. Estes me causam revolta. Estão vendendo sua moral por uma situação de conforto, às vezes, só para trabalhar menos (ou nem trabalhar, nos piores casos). Eles e os do segundo caso compactuam com o parasitismo nas tetas do governo. E pensar que a maioria deles dizia que isso era nojento quando quem mamava eram outros...

2. Os idealistas sectários: acreditaram a vida toda em Lula como a promessa viva do socialismo, do governo operário e de outras bobagens de um século atrás. Pararam no tempo, se duvidar ainda têm calafrios quando vêem um milico, talvez guardem retratos do Ho Chi Minh e do Fidel. Aceitar que aquele Lula morreu e no lugar dele há um político igualzinho aos outros é demais para suas frágeis mentes obcecadas. O pior cego é o que não quer ver. Destes até dá pra sentir pena.

3. Os que têm fobia a FHC: funcionários de estatais ou empresas públicas privatizadas odeiam Fernando Henrique, principalmente os que não tinham competência para continuar empregados quando a iniciativa privada assumiu. Seus colegas das empresas que ainda são do governo temem que suas empresas sejam as próximas. Insegurança quando se pode ir para a guilhotina é natural. O que é ridículo e fingir que a preocupação é que o governo venda barato. Estão todos se lixando pro "patrimônio do povo" - se ligassem estariam preocupados com o rombo que algumas destas empresas fazem no orçamento. Outros efeagacefóbicos são os funcionários públicos de categorias sem peso na estrutura, que amargaram 8 anos sem aumento e não querem isso de novo (só que esquecem do 0,1% de aumento que Lula lhes ofereceu, a retirada da aposentadoria integral - que ele tentou, mas não conseguiu, apesar de prometer que não faria - etc.). Fora esses, a maioria dos opositores de FHC estão nos dois tipos anteriores. Os que não estão, estão votando nulo. O que eu não sabia é que FHC era candidato. Se não me engano, quem concorre é o Alckmin, contra a vontade de Fernando, que preferia o Serra. Alckmin é da "banda jeca" do PSDB, não foi exilado nem preso durante a ditadura, embora fosse moço demais na época que a coisa era "quente".

4. Os "beneficiados": os pobres coitados que recebem Bolsa Família e outras esmolas. Estes tem medo de perder os benefícios e se tornaram peões de Lula na sua sanha de perpertuar-se no poder. Será que os recebem de favor, e não por estarem enquadrados nos requisitos? (Suponho que devam existir requisitos, ou a bagunça é pior ainda?) Lula chama isso de "fazê pela gente pobre do Brasiu o que zamais fffoi fffeito na hisstória defe paiz"; eu chamo de compra de votos. Por outro lado, sei de gente que parou de cuidar da lavoura ou deixou o emprego porque recebe a Bolsa e não precisa mais trabalhar. Isso é benefício ou incentivo à indolência e à mendicância?
De qualquer modo, não posso culpar essa gente sofrida, que cresceu ouvindo dizer que trabalho é castigo, que ache em Lula um "redentor". Eu acho que ele está mais pra serpente. Até sibila!

Até aqui eu entendo os motivos de cada um. Não concordo, mas reconheço. Quantos eleitores se enquadram nessas categorias? Não sou bom em procurar estatísticas, por isso vou chutar: um milhão? Vou ser mais otimista: que sejam 10 Milhões. Isso é menos de 10% do eleitorado. Ainda que dobremos, o que sobra daria a vitória a Alckmin. Por isso o ultimo perfil é para mim o mais intrigante de todos: são aqueles que não têm motivo pra votar em Lula. Não são petistas, não são intelectuais (nem não-intelectuais) de esquerda, não têm cargo, não recebem benefício e nem foram prejudicados por FHC.

Será que acham que Lula faz um bom governo? Não entendem que Mensalão, dólares na cueca, filho beneficiado, Land Rover, Valerioduto, Caixa 2, malas de dinheiro, sanguessugas, compras de dossiês não permitem a ninguém fazer um bom governo? Que o Brasil tem uma carga tributária de 40% e juros nas alturas porque, entre outras coisas, o desvio de dinheiro aumentou? Acham que um governo que apóia um candidato na Bolívia que prometia estatizar o petróleo e o gás, contra os interesses brasileiros é bom? Ainda mais quando o sujeito cumpre a promessa? É possível achar bom que, depois disso, nosso presidente justifique a atitude do outro e ainda mantenha relações amigáveis com ele?

Talvez esses eleitores achem que são todos iguais. Iguais?! Não sou louco de afirmar categoricamente que Alckmin é honesto. Neste país, não podemos atribuir tal virtude a um político tão descuidadamente. Mas também não tenho motivos para afirmar que ele é desonesto. Mas e quanto a Lula? Se o critério é honestidade, o Presidente da República é como "a mulher de César": não bastava ser virtuosa; deveria parecer virtuosa. Ainda que Lula fosse um presidente desinformado como "nunca se viu na história deste país" (sendo portanto, o maior néscio que já ocupou o Planalto), ele teria perdido sua aura e, sem ela, não poderia ser reconduzido. Se todos forem desonestos, votemos no que ainda não provou isso. Ou não elejamos o que já provou que não é capaz de ver nada que não lhe seja colocado em frente numa ficha de papel.

No próximo domingo iremos votar. Talvez a reeleição se confirme. De qualquer jeito, vou passar os próximos anos tentando entender o que passa na cabeça desse povo.

20 outubro 2006

Nunca fui Lula

Pensei duas vezes antes de escrever este post. Achava que isso poderia trazer uma imagem de parcialidade indesejável para que gosta do debate. Refleti, porém, que nos assuntos que quero abordar neste blog não há espaço para uma imparcialidade absoluta. A política, querendo ou não, é um território de escolhas, uma pessoa séria sempre escolhe um lado.

Por outro lado, não me identifico com o fanatismo. Não sou aquele tipo de pessoa que pensa: "quem não está comigo, está contra mim". Sou capaz de identificar aspectos positivos ou atitudes corretas nos meus adversários, bem como reconhecer os defeitos daqueles a quem dou meu apoio. Meu posicionamento resulta, como da maioria das pessoas, da minha percepção de mundo, da minha ótica, meus valores e, evidentemente, meus interesses pessoais, que não posso negar, ainda que tente diminuir sua importância no meu julgamento. Nessa consciência que não estou acima do certo e do errado, que tenho limitações humanas, reside a minha isenção.

Explicado isso, por que nunca fui Lula? Decidi começar com este tema porque ele vai pautar tudo que eu disser daqui pra frente. Ser avesso à sua candidatura desde 1989 é diferente de ser mais um desiludido com sua política econômica, com a reforma da previdência ou com o mensalão. Eu jamais acreditei em Lula como um caminho para o Brasil. Votei em seus adversários em todas as cinco eleições que participou. Quer dizer que sempre fiz oposição sistemática a ele? Não. Sou contra a oposição sistemática. Me oponho ao que contraria minhas convicções. Se eu concordar com a idéia, não importa de quem seja, apoiarei. Então por que nunca dei a Lula um "voto de confiança", como a grande maioria de seus eleitores fez na eleição passada, quando "A esperança venceu o medo"? Vou dizer agora:

Primeiramente, sou sofocrata. Acredito num governo de pessoas estudadas(cultas), inteligentes, esforçadas e vividas, exatamente nessa ordem. Acredito no mérito como único fator de avaliação para o progresso pessoal. Quem se esforça para ser melhor que os outros merece ficar na frente. Se tiver um dom especial, ótimo! Mas tem que usá-lo na proporção que o tem. Se alguém tira 10 sem estudar, deve ficar na frente de quem tira 9, mas atrás de quem tirou 10 estudando. Aplico isso na minha própria avaliação: sempre fui bom aluno, notas ótimas, mas gostava muito de ver TV, enquanto tinha colegas também ótimos, melhores, que estudavam à beça. Se hoje vejo um deles melhor que eu, penso: "devia ter visto menos TV". Mas se quem está na frente era um daqueles colegas picaretas, acho uma injustiça. Nesse aspecto, Lula, com seu primário incompleto mesmo com 13 anos (1989-2002) para se preparar é uma afronta a todos que passaram mais de 15 anos se preparando para ser alguém. Muitos dizem que isso é preconceito. Eu chamo de mau-exemplo. Aos que acusam tal discriminação eu peço que digam a seus filhos naquela idade em que as prioridades são outras que sem estudo eles não serão ninguém e esperem a resposta: "E o Lula?" que eles entenderão o que estou dizendo.

Em segundo lugar, Lula sempre foi socialista. Não posso dizer que sou um capitalista convicto, pois isso seria dizer que é um sistema excelente. Prefiro dizer que até agora não inventaram nada melhor. Nenhum sistema se adapta melhor à meritocracia que ele, enquanto o socialismo, com a idéia de "todos devem ser iguais", pretende trazer a "igualdade" à força. Todo mundo é semelhante, sim. Todo mundo é humano, tem defeitos, tem qualidades, precisa comer, morar, vestir-se, ter dignidade. A lei deve ser igual para todos, também. Mas as pessoas não são iguais. Há o talento, o empenho. Quem se esforça mais, quem procura ir além, quem aprende a usar seus dons sempre consegue mais, e assim deve ser, desde que obtido de forma honesta. Não podemos simplesmente tirar de quem alcança o sucesso para distribuir gratuitamente aos mal sucedidos. Os bem sucedidos devem, sim, colaborar, mas para dar oportunidade a todos de descobrirem no que podem ter sucesso e no fornecimento de condições de investir nisso. A melhoria de vida, a distribuição de renda deve ser fruto do esforço, e não a obra de um Robin Hood canhestro. Mas as experiências socialistas nunca são assim. Gente como Lula acredita que deve "cobrar a conta das elites". Querem cobrar das pessoas de hoje pelos erros da sociedade no passado.

Finalmente, havia o PT. Aquela convicção que estavam certos e o outros, errados; aquela intolerância às opiniões divergentes; o patrulhamento, o abusos sindicais, o comportamento de Hooligans, a torcida irracional, a visão estatista (com a finalidade única e exclusiva de manter o emprego, principalmente por aqueles que não demonstravam o menor apego institucional); a admiração por "democratas" como Fidel Castro e, claro, a idolatria a um boçal como Lula tornavam a convivência com eles insuportável. Eu seria contra Madre Tereza de Calcutá se ela fosse petista (aliás, era bem capaz deles dizerem que ela seria, se conhecesse o partido).

Por essas razões, apedeutismo+socialismo+petismo, eu jamais desejei Lula como presidente do meu país. Hoje, ainda que seu governo tivesse sido um primor de honestidade, eu votaria em seu adversário. Prefiro um médico capitalista liberal. Mas tal preferência não me faria criar um blog para protestar. Sou capaz de entender que um povo privado de escolas não se importe em ter um presidente ignaro. Sou capaz de engolir que a falácia do socialismo atraia os menos favorecidos sem oportunidade. Sou capaz de aceitar que um povo acostumado a fanáticos por futebol e religião não se irritasse com os exageros do PT. Mas nunca admitirei a escolha pela corrupção. Não posso suportar que o mundo veja que, mesmo sabendo que seu presidente ao menos consentiu com o roubo, com a indignidade, com a mentira de forma tão avassaladora, que ainda assim o reconduza ao poder. Que dirá se ele participou!

Em 2002 resignei-me com o resultados das urnas. Sou democrata. O povo escolhera o baixo nível intelectual por um alto nível ético. Queria uma nova forma de fazer política. Mas, se a ética ruiu, onde está a razão? Aceitei a inocência. Jamais aceitarei a exaltação do crime!

19 outubro 2006

O Porquê deste Blog

Esta é minha segunda investida para manter um blog. Em meu blog anterior eu desejava ser mais eclético, e acho que isso comprometeu um pouco o resultado e fiquei desmotivado.

Agora, minha estupefação com os rumos deste país, minha surpresa diante das escolhas de nosso povo, minha revolta com as justificativas estapafúrdias daqueles que defendem o indefensável me deram força para esta nova empreitada. A esperança de que ainda subsista alguma sanidade nesta terra alienada ainda se mantém, mas o meu (infelizmente) infalível senso lógico aponta na derrocada final da dignidade. Por isso, decidi que não verei os valores que recebi desde minha infância (honestidade, verdade, respeito, honra, trabalho, sabedoria, cultura...) sucumbirem ao oportunismo, à mentira, à ganância, à falta de vergonha sem lutar. Não sou profeta para recorrer à velha imagem do pregador solitário no deserto, mesmo porque não estou sozinho neste embate: ainda há gente lúcida neste país, mas aqui irei dizer o que penso. Não desejo convencer ninguém, mas apenas deixar, em cada post, uma semente para reflexão por aqueles que não se deixaram entorpecer pelas falácias dos manipuladores da verdade.

Com este espírito inauguro este blog, onde fincarei minha pequena bandeira contra a vergonha nacional. Aqui tentarei dar minha contribuição à divulgação da verdade em que acredito, sempre com respeito à divergência, desde que respeitosa. Tentarei prosseguir com este objetivo, esperando ansiosamente o dia em que o nome deste blog deixe de representar a realidade.

Àqueles que desejarem me agüentar, agradeço.