20 outubro 2006

Nunca fui Lula

Pensei duas vezes antes de escrever este post. Achava que isso poderia trazer uma imagem de parcialidade indesejável para que gosta do debate. Refleti, porém, que nos assuntos que quero abordar neste blog não há espaço para uma imparcialidade absoluta. A política, querendo ou não, é um território de escolhas, uma pessoa séria sempre escolhe um lado.

Por outro lado, não me identifico com o fanatismo. Não sou aquele tipo de pessoa que pensa: "quem não está comigo, está contra mim". Sou capaz de identificar aspectos positivos ou atitudes corretas nos meus adversários, bem como reconhecer os defeitos daqueles a quem dou meu apoio. Meu posicionamento resulta, como da maioria das pessoas, da minha percepção de mundo, da minha ótica, meus valores e, evidentemente, meus interesses pessoais, que não posso negar, ainda que tente diminuir sua importância no meu julgamento. Nessa consciência que não estou acima do certo e do errado, que tenho limitações humanas, reside a minha isenção.

Explicado isso, por que nunca fui Lula? Decidi começar com este tema porque ele vai pautar tudo que eu disser daqui pra frente. Ser avesso à sua candidatura desde 1989 é diferente de ser mais um desiludido com sua política econômica, com a reforma da previdência ou com o mensalão. Eu jamais acreditei em Lula como um caminho para o Brasil. Votei em seus adversários em todas as cinco eleições que participou. Quer dizer que sempre fiz oposição sistemática a ele? Não. Sou contra a oposição sistemática. Me oponho ao que contraria minhas convicções. Se eu concordar com a idéia, não importa de quem seja, apoiarei. Então por que nunca dei a Lula um "voto de confiança", como a grande maioria de seus eleitores fez na eleição passada, quando "A esperança venceu o medo"? Vou dizer agora:

Primeiramente, sou sofocrata. Acredito num governo de pessoas estudadas(cultas), inteligentes, esforçadas e vividas, exatamente nessa ordem. Acredito no mérito como único fator de avaliação para o progresso pessoal. Quem se esforça para ser melhor que os outros merece ficar na frente. Se tiver um dom especial, ótimo! Mas tem que usá-lo na proporção que o tem. Se alguém tira 10 sem estudar, deve ficar na frente de quem tira 9, mas atrás de quem tirou 10 estudando. Aplico isso na minha própria avaliação: sempre fui bom aluno, notas ótimas, mas gostava muito de ver TV, enquanto tinha colegas também ótimos, melhores, que estudavam à beça. Se hoje vejo um deles melhor que eu, penso: "devia ter visto menos TV". Mas se quem está na frente era um daqueles colegas picaretas, acho uma injustiça. Nesse aspecto, Lula, com seu primário incompleto mesmo com 13 anos (1989-2002) para se preparar é uma afronta a todos que passaram mais de 15 anos se preparando para ser alguém. Muitos dizem que isso é preconceito. Eu chamo de mau-exemplo. Aos que acusam tal discriminação eu peço que digam a seus filhos naquela idade em que as prioridades são outras que sem estudo eles não serão ninguém e esperem a resposta: "E o Lula?" que eles entenderão o que estou dizendo.

Em segundo lugar, Lula sempre foi socialista. Não posso dizer que sou um capitalista convicto, pois isso seria dizer que é um sistema excelente. Prefiro dizer que até agora não inventaram nada melhor. Nenhum sistema se adapta melhor à meritocracia que ele, enquanto o socialismo, com a idéia de "todos devem ser iguais", pretende trazer a "igualdade" à força. Todo mundo é semelhante, sim. Todo mundo é humano, tem defeitos, tem qualidades, precisa comer, morar, vestir-se, ter dignidade. A lei deve ser igual para todos, também. Mas as pessoas não são iguais. Há o talento, o empenho. Quem se esforça mais, quem procura ir além, quem aprende a usar seus dons sempre consegue mais, e assim deve ser, desde que obtido de forma honesta. Não podemos simplesmente tirar de quem alcança o sucesso para distribuir gratuitamente aos mal sucedidos. Os bem sucedidos devem, sim, colaborar, mas para dar oportunidade a todos de descobrirem no que podem ter sucesso e no fornecimento de condições de investir nisso. A melhoria de vida, a distribuição de renda deve ser fruto do esforço, e não a obra de um Robin Hood canhestro. Mas as experiências socialistas nunca são assim. Gente como Lula acredita que deve "cobrar a conta das elites". Querem cobrar das pessoas de hoje pelos erros da sociedade no passado.

Finalmente, havia o PT. Aquela convicção que estavam certos e o outros, errados; aquela intolerância às opiniões divergentes; o patrulhamento, o abusos sindicais, o comportamento de Hooligans, a torcida irracional, a visão estatista (com a finalidade única e exclusiva de manter o emprego, principalmente por aqueles que não demonstravam o menor apego institucional); a admiração por "democratas" como Fidel Castro e, claro, a idolatria a um boçal como Lula tornavam a convivência com eles insuportável. Eu seria contra Madre Tereza de Calcutá se ela fosse petista (aliás, era bem capaz deles dizerem que ela seria, se conhecesse o partido).

Por essas razões, apedeutismo+socialismo+petismo, eu jamais desejei Lula como presidente do meu país. Hoje, ainda que seu governo tivesse sido um primor de honestidade, eu votaria em seu adversário. Prefiro um médico capitalista liberal. Mas tal preferência não me faria criar um blog para protestar. Sou capaz de entender que um povo privado de escolas não se importe em ter um presidente ignaro. Sou capaz de engolir que a falácia do socialismo atraia os menos favorecidos sem oportunidade. Sou capaz de aceitar que um povo acostumado a fanáticos por futebol e religião não se irritasse com os exageros do PT. Mas nunca admitirei a escolha pela corrupção. Não posso suportar que o mundo veja que, mesmo sabendo que seu presidente ao menos consentiu com o roubo, com a indignidade, com a mentira de forma tão avassaladora, que ainda assim o reconduza ao poder. Que dirá se ele participou!

Em 2002 resignei-me com o resultados das urnas. Sou democrata. O povo escolhera o baixo nível intelectual por um alto nível ético. Queria uma nova forma de fazer política. Mas, se a ética ruiu, onde está a razão? Aceitei a inocência. Jamais aceitarei a exaltação do crime!

1 Comentários:

At 2:18 AM, Blogger Zé Costa disse...

Parabéns pela contundência! infelizemnte Caro Luís fui enganado sim, mas acordei do pesadelo. Pode me chamar de Zé Paulo.

 

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