22 outubro 2006

Quem vota em Lula?

Quando os escândalos estouraram no ano passado, pensei que era o fim. Não o fim de Lula, não o fim do partido, porque sei que a nossa justiça não é exatamente a mais rigorosa do planeta. Além do mais, havia aquela história de "preconceito contra o operário", as teorias conspiratórias (como esta última da Carta Capital) que iriam botar panos quentes. Eu pensei isso sim, que era o fim da arrogância petista, o fim do patrulhamento, a destruição da imagem de "salvadores da pátria".

Um ano depois, mal consigo acreditar: o fanatismo, as bandeiras vermelhas, o patrulhamento continuam. Menos intensos, é verdade, mas descabidamente presentes diante da demolição dos valores tão cultuados pelo partido (o que me leva a uma conclusão, mas isso eu falo outro dia). Não que eu esperasse que todo mundo deixasse de ser petista (embora quisesse), mesmo porque não sou radical a ponto de achar que não existe gente decente no PT, mas que a coisa ficasse mais "normal", até tímida. Talvez seja porque eu tenho vergonha na cara. Não deveria pressupor que os outros vão agir como eu agiria...

Hoje vejo o noticiário, as pesquisas, os adesivos nos carros e tento entender o que está acontecendo. Tentei encontrar o motivo das pessoas votarem em Lula. Só consegui pensar o seguinte:

1. Os apaniguados: a grande maioria deste tipo é petista (filiada ou não) ou ligada a um. Ocupam um cargo na administração atual e evidentemente não querem perdê-lo. Outros receberam algum tipo de benefício profissional ou corporativo deste governo e se sentem em dívida ou esperam mais. No primeiro caso eu até poderia entender: para a grande maioria, é difícil pensar em ética quando a sobrevivência ou o conforto está em jogo. Mas há aqueles que têm plena condição de se manter fora do governo: profissionais capacitados, inteligentes. Estes me causam revolta. Estão vendendo sua moral por uma situação de conforto, às vezes, só para trabalhar menos (ou nem trabalhar, nos piores casos). Eles e os do segundo caso compactuam com o parasitismo nas tetas do governo. E pensar que a maioria deles dizia que isso era nojento quando quem mamava eram outros...

2. Os idealistas sectários: acreditaram a vida toda em Lula como a promessa viva do socialismo, do governo operário e de outras bobagens de um século atrás. Pararam no tempo, se duvidar ainda têm calafrios quando vêem um milico, talvez guardem retratos do Ho Chi Minh e do Fidel. Aceitar que aquele Lula morreu e no lugar dele há um político igualzinho aos outros é demais para suas frágeis mentes obcecadas. O pior cego é o que não quer ver. Destes até dá pra sentir pena.

3. Os que têm fobia a FHC: funcionários de estatais ou empresas públicas privatizadas odeiam Fernando Henrique, principalmente os que não tinham competência para continuar empregados quando a iniciativa privada assumiu. Seus colegas das empresas que ainda são do governo temem que suas empresas sejam as próximas. Insegurança quando se pode ir para a guilhotina é natural. O que é ridículo e fingir que a preocupação é que o governo venda barato. Estão todos se lixando pro "patrimônio do povo" - se ligassem estariam preocupados com o rombo que algumas destas empresas fazem no orçamento. Outros efeagacefóbicos são os funcionários públicos de categorias sem peso na estrutura, que amargaram 8 anos sem aumento e não querem isso de novo (só que esquecem do 0,1% de aumento que Lula lhes ofereceu, a retirada da aposentadoria integral - que ele tentou, mas não conseguiu, apesar de prometer que não faria - etc.). Fora esses, a maioria dos opositores de FHC estão nos dois tipos anteriores. Os que não estão, estão votando nulo. O que eu não sabia é que FHC era candidato. Se não me engano, quem concorre é o Alckmin, contra a vontade de Fernando, que preferia o Serra. Alckmin é da "banda jeca" do PSDB, não foi exilado nem preso durante a ditadura, embora fosse moço demais na época que a coisa era "quente".

4. Os "beneficiados": os pobres coitados que recebem Bolsa Família e outras esmolas. Estes tem medo de perder os benefícios e se tornaram peões de Lula na sua sanha de perpertuar-se no poder. Será que os recebem de favor, e não por estarem enquadrados nos requisitos? (Suponho que devam existir requisitos, ou a bagunça é pior ainda?) Lula chama isso de "fazê pela gente pobre do Brasiu o que zamais fffoi fffeito na hisstória defe paiz"; eu chamo de compra de votos. Por outro lado, sei de gente que parou de cuidar da lavoura ou deixou o emprego porque recebe a Bolsa e não precisa mais trabalhar. Isso é benefício ou incentivo à indolência e à mendicância?
De qualquer modo, não posso culpar essa gente sofrida, que cresceu ouvindo dizer que trabalho é castigo, que ache em Lula um "redentor". Eu acho que ele está mais pra serpente. Até sibila!

Até aqui eu entendo os motivos de cada um. Não concordo, mas reconheço. Quantos eleitores se enquadram nessas categorias? Não sou bom em procurar estatísticas, por isso vou chutar: um milhão? Vou ser mais otimista: que sejam 10 Milhões. Isso é menos de 10% do eleitorado. Ainda que dobremos, o que sobra daria a vitória a Alckmin. Por isso o ultimo perfil é para mim o mais intrigante de todos: são aqueles que não têm motivo pra votar em Lula. Não são petistas, não são intelectuais (nem não-intelectuais) de esquerda, não têm cargo, não recebem benefício e nem foram prejudicados por FHC.

Será que acham que Lula faz um bom governo? Não entendem que Mensalão, dólares na cueca, filho beneficiado, Land Rover, Valerioduto, Caixa 2, malas de dinheiro, sanguessugas, compras de dossiês não permitem a ninguém fazer um bom governo? Que o Brasil tem uma carga tributária de 40% e juros nas alturas porque, entre outras coisas, o desvio de dinheiro aumentou? Acham que um governo que apóia um candidato na Bolívia que prometia estatizar o petróleo e o gás, contra os interesses brasileiros é bom? Ainda mais quando o sujeito cumpre a promessa? É possível achar bom que, depois disso, nosso presidente justifique a atitude do outro e ainda mantenha relações amigáveis com ele?

Talvez esses eleitores achem que são todos iguais. Iguais?! Não sou louco de afirmar categoricamente que Alckmin é honesto. Neste país, não podemos atribuir tal virtude a um político tão descuidadamente. Mas também não tenho motivos para afirmar que ele é desonesto. Mas e quanto a Lula? Se o critério é honestidade, o Presidente da República é como "a mulher de César": não bastava ser virtuosa; deveria parecer virtuosa. Ainda que Lula fosse um presidente desinformado como "nunca se viu na história deste país" (sendo portanto, o maior néscio que já ocupou o Planalto), ele teria perdido sua aura e, sem ela, não poderia ser reconduzido. Se todos forem desonestos, votemos no que ainda não provou isso. Ou não elejamos o que já provou que não é capaz de ver nada que não lhe seja colocado em frente numa ficha de papel.

No próximo domingo iremos votar. Talvez a reeleição se confirme. De qualquer jeito, vou passar os próximos anos tentando entender o que passa na cabeça desse povo.

1 Comentários:

At 10:12 PM, Blogger O Fantasma de Bastiat disse...

Caro Luís, concordo integralmente com o que você escreveu. E já te linquei lá no Resistência também.
Um grande abraço e parabéns pelo ótimo blog.

 

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