22 outubro 2006

Velho, me arruma 100 reais?

Há, no Brasil, uma visão completamente distorcida da função do Estado. Basta haver qualquer problema e você ouvirá alguém dizer: "O governo precisa fazer alguma coisa!". Claro que em muitos casos a necessidade de intervenção do governo é óbvia, mas o que chama a atenção é a intenção dos que clamam pelo Estado: não querem a sua proteção, mas sim a sua generosidade.

Não se espera no Brasil o Estado regulador, que zele pelas leis, pelo direito dos cidadãos, mas sim um Estado paternal, que provenha as necessidades materiais da população. As pessoas agem como aqueles filhos marmanjos que relutam em arrumar um emprego e querem viver às custas dos pais a vida inteira.

Muitos fatores levam os filhos a este comportamento, e normalmente reside nos próprios pais uma boa parte da culpa. Pais que proporcionam uma vida confortável aos filhos sem exigir deles nenhuma contrapartida (respeito, dedicação aos estudos, satisfação de seus atos e submissão às conseqüências destes, enfim: responsabilidade) acabam criando filhos preguiçosos. Claro que a personalidade dos filhos influi, mas nesse caso "fechar as torneiras" é uma saída que qualquer pai sabe, a não ser como ouvi certa vez uma senhora justificar o dinheiro que dava ao filho, dizendo: "tenho medo dele roubar...". Desnecessário comentar a convicção dela quanto ao arcabouço moral que ofereceu à criança.

Da mesma forma tem agido o Estado brasileiro desde a sua criação, em 1822. No Império, evidentemente, como em qualquer monarquia do século XIX, o Estado não era do povo, mas da Família Real, e vivia para favorecer aos nobres. O povo ficava com migalhas, quer para massagear o ego dos governantes, quer para evitar uma revolta incômoda (a acalentada "indole pacífica" de nosso povo nunca deu margem à preocupação de uma revolta perigosa, à exceção, talvez, da Revolução Farroupilha). O mesmo aconteceu na República Velha, até que Getúlio Vargas veio para tirar o "jejum" do povo. Ele se tornou o "Pai dos Pobres" e criou a imagem de Estado que persiste até os dias de hoje: um governo que ajuda, que cria dependência, que não investe na erradicação das causas, mas no abrandamento das conseqüências. Um governo que deseja uma relação feudal: o senhor e seus vassalos.

Desde então, o povo quer o Governo bancando tudo. O Estado, como não deve visar lucro, fará o melhor para a população, como se lucro e bem estar fossem conceitos necessariamente antagônicos. Este é o Grande Dogma da Esquerda: a satanização do lucro.

Quando Karl Marx demonizou o capital como meio de exploração dos trabalhadores, era o início da Revolução Industrial e o Estado como uma síntese do povo não existia. Sem esse elemento regulador, não havia como fugir do abuso e a filosofia era "Lucro 100 X 0 Homem". Mas se o Estado cumprir seu papel de vigilante dos direitos do povo, o lucro é a mola-mestra do progresso. Esse é o conceito de um Estado Moderno, um conceito que a esquerda, cristalizada no século XIX, se recusa a entender. Insistem no monopólio estatal que, sem lucro e sem concorrência, nada tem a perder. Se nada tem a perder, por que investir em eficiência? Se o cliente (o povo) não tem opção, de que adianta reclamar? E todos fingem que são felizes... é isso?

Que lugar melhor para proliferar uma idéia dessas que numa terra onde se cresce ouvindo que dinheiro e pecado andam juntos, que trabalhar para "ganhar o pão com o suor do rosto" é o castigo de Deus aos homens por terem desobedecido a Ele, e que "é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha que um rico entrar no Reino dos Céus"? Aqui, a maioria quer ficar rica na moleza, ganhando na loteria para parar de trabalhar, com uma ponta de remorso porque ficar rico é comprar uma passagem para o inferno.

Enquanto isso, nas nações desenvolvidas acredita-se que o trabalho foi o meio dado pela Misericórdia Divina para a redenção do homem, e que a riqueza honesta é resultado da riqueza de bençãos. Ter dinheiro não é pecado, isso depende do uso que se faz dele. As pessoas são admiradas por sua capacidade de ganhar dinheiro (e execradas quando meios ilícitos de conseguir são revelados). Lá, o mérito é reconhecido, enquanto aqui as pessoas de valor tem que ser modestas. Se destacar demais significa isolamento social.

Lá, o Estado existe para exercer, principalmente, o poder de polícia (não é à toa que esta palavra tem origem semelhante a política, e não é pelo motivo que a petralha consagrou recentemente); para fiscalizar, fazer leis que representem a vontade do povo e exigir seu cumprimento. Existe para garantir os direitos, como a igualdade de oportunidades, com educação para todos, por exemplo. Para isso recolhe impostos de todos, prestando serviços para todos.

Aqui não. Acá, o "bonito" é todo mundo ser "igual", é distribuir a pobreza, é depender do "Grande Irmão" que zela por todos, sem inveja, sem cobiça (e a preguiça, onde fica?). Assim se faz a apologia da mediocridade e fica-se a sonhar com o progresso, sonhar com a riqueza, sonhar com o bem-estar social. Como o filho preguiçoso, se sonha com a herança que se dilapida a cada dia. Afinal, ficar sonhando também sai de graça... ou não?

2 Comentários:

At 2:44 AM, Blogger Flavia disse...

Pois é Oggi eu mudei de blog algumas vezes rs. A mel ainda não operou, mas de dezembro não passa, não dá para ficar postergando uma coisa assim, mas ela está bem, sapeca como sempre.

Eu tb ando horrizada com as coisas, de como o brasileiro tem memoria curta, vc viu os candidatos mais votados ?( tirando o clodovil) Maluf,Palocci, Genuíno, tudo politico corrupto. Será que o povo não vê tv, não lê jornais? Eu fiquei com tanta raiva que até deixei de ver os noticiarios sobre politica, de que adianta a gente se e stressar com isso se tem um bando de "3 macaquinhos" ( não ouço, não vejo, não digo nada) votando? Será que é só agente que vê as coisas que acontecem??

Bom, espero que vc volte de vez. Vou indicar seu blog e espero que aqui fique cheio de comentarios hehehe

bjs

Ahhh veja se vc ativa a liberação de rss no seu blogspot.
bjs

 
At 12:59 PM, Anonymous Anônimo disse...

Oi Oggi, vim conhecer seu blog pois sou amiga da Flávia Sereia e gostei muito como vc escreve. Desejo sucesso a vc.
Big Beijos!!! :)

 

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