11 dezembro 2009

Jeca Tatu

O tempo irá revelar, sob as luzes da história, as contribuições de Lula a esse país. Lula acabou com a dívida externa. Lula fez com que o Brasil fosse o primeiro país a superar a crise. Lula consegui trazer a primeira Olimpíada para o Brasil. Lula arrancou elogios do presidente americano mais popular dos últimos tempos (quando ele estava mesmo popular). Assim, assumiu seu lugar na história do Brasil.

Mas, na minha opinião, foram suas sábias palavras, frutos de sua experiência de vida, de sua juventude sacrificada, síntese de um conhecimento adquirido, como ele mesmo diz, na "Escola da Vida" que calarão fundo na alma do povo brasileiro, e irão refletir nos valores de toda uma geração.

"O PT fez, do ponto de vista eleitoral, o que é feito no Brasil sistematicamente." - sugerindo que o caixa dois não era nada de mais, em entrevista dada em Paris, em julho de 2005.

"Se tem um governo que tem sido implacável no combate à corrupção, desde o primeiro dia, é o meu governo." - em junho de 2005

"Eu levaria o José Dirceu para o palanque, até porque nada foi provado contra ele."- seis dias depois de o ex-deputado ter o mandato cassado por acusação de comandar o esquema de mensalão no Congresso, em dezembro de 2005.

O que quero saber não é só de onde veio o dinheiro. Quero saber quem é que montou a engenharia política para essa barbárie. Eu quero saber quem foi o engenheiro que arquitetou uma loucura dessa, porque, se um bando de aloprados resolve comprar um dossiê, é porque alguém vendeu." - sobre o falso dossiê para incriminar candidatos da oposição, em setembro de 2006

Quero fazer justiça ao senador (Fernando) Collor e ao senador Renan (Calheiros), que têm dado uma sustentação muito grande aos trabalhos do governo no Senado.” - em julho de 2009

Ele (Sarney) tem história suficiente para que não seja tratado como uma pessoa comum.

"Eles categoricamente disseram que isso era uma peça de ficção, que não existia mensalão dentro do Congresso Nacional. E pelo que consta, até agora, não foi provado que tem mensalão. Até agora, o que foi cassado, foi cassado porque contou uma inverdade sobre o Congresso Nacional." - negando o "mensalão", em novembro de 2009

"Imagem não fala por si." - acerca dos vídeos sobre o Governador Arruda, em 2009.

"Eu quero saber se o povo está na MERDA e eu quero tirar o povo da MERDA em que ele se encontra." - dezembro de 2009

Há 4 anos, o maior descalabro na nossa longa folha corrida de casos de corrupção foi minimizado pelo Presidente da República e varrido para baixo do tapete. O escândalo seguinte, em plenas eleições, foi ignorado pela população brasileira, entorpecida pelo Bolsa Família e desmotivada pela falta de carisma de Geraldo Alckmin. Nada é preciso dizer sobre os escândalos do Senado, abafados por Lula e com seus protagonistas afagados por ele. E, agora, até mesmo a oposição recebe sua magnanimidade.

Há algo pior que subestimar a inteligência das pessoas, ferir a língua pátria e, finalmente, violentar a compostura de um Chefe de Estado: é ser o mais estrondoso e visível mau exemplo de sucesso imoral e antiético da "história deste país".

A total falta de vergonha que o país assiste em Brasília é a ponta de um iceberg de lama que ainda pode mostrar coisas muito piores. Não estou falando de novas cenas patéticas de maços de dinheiro trocando de mãos e percentuais discutidos abertamente: falo da manutenção de uma candidatura a reeleição e da negação de um pedido de impeachment que certamente irão escandalizar o país e colocar a última jóia da coroa de Capital da Corrupção que já paira sobre a cidade. Mais que isso: falo da inacreditável possibilidade de reeleição de Arruda, contra os ditames da dignidade e do bom senso, e que significará não só a coroa para a cidade, mas arreios para a sua população.

A mídia discute a desfaçatez dos políticos brasilienses. Eu explico: por que não? Por que ter vergonha quando o supremo mandatário da nação não se constrange? Por que temer alguma coisa quando um povo reconduz e ovaciona alguém que, cercado pelo mar de lama, simplesmente alega nada saber, diminui o problema e defende os envolvidos? Para que a continência, quando os grandes baluartes da corrupção nacional, outrora inimigos figadais do grande sindicalista, ao serem flagrados e expostos à opinião pública, são aplaudidos e elevados pelo novo aliado, sem o menor apego aos ideais traídos? Que sentido têm os conceitos de verdade, palavra, honra, dignidade, moralidade, ética e respeito?

O grande destaque, a grande imagem do governo Lula não fica na pujança de uma economia mais forte ou no sucesso midiático internacional (manchado, inclusive, por nossa política externa completamente desastrosa e retrógrada). A maior contribuição de Lula para a nossa história foi a banalização da corrupção, a oficialização do fisiologismo, a institucionalização do aparelhamento político do Estado, a completa e absoluta desmoralização da classe política do país, o extermínio da esperança dos bons na superação de nossas mazelas culturais.

Lula afirma que irá tirar o povo da merda enquanto defeca sobre a Constituição, a Lei e a auto-estima daqueles que se orgulham de serem honestos. E, como se não bastasse, sem uma ponta de remorso, emporcalha descaradamente a dignidade do cargo para o qual foi eleito. Não basta para ele mostrar ao povo que a honestidade é descartável: tem de deixar claro que as instituições do país não são dignas de respeito nem nos aspectos mais comezinhos e tão básicos como os da boa educação.

Não chega a ser uma surpresa para um governo que já deu provas suficientes que não está nem aí para a educação: ano após ano, destrói ainda mais o nosso combalido sistema de ensino, favorecendo a ineficácia, a ideologia tendenciosa, o repúdio ao mérito, o nivelamento por baixo e, por que não dizer, fazendo apologia da ignorância.

Lula, ao ser eleito, se tornou um exemplo vivo da superação das dificuldades por um homem do povo. Agora, na medida em que seu mandato se aproxima do fim, parece querer enfatizar menos a superação e mais suas origens populares. Pena que para isso prefira se basear na figura pobre e ignorante de Jeca Tatu.

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