11 dezembro 2009

Jeca Tatu

O tempo irá revelar, sob as luzes da história, as contribuições de Lula a esse país. Lula acabou com a dívida externa. Lula fez com que o Brasil fosse o primeiro país a superar a crise. Lula consegui trazer a primeira Olimpíada para o Brasil. Lula arrancou elogios do presidente americano mais popular dos últimos tempos (quando ele estava mesmo popular). Assim, assumiu seu lugar na história do Brasil.

Mas, na minha opinião, foram suas sábias palavras, frutos de sua experiência de vida, de sua juventude sacrificada, síntese de um conhecimento adquirido, como ele mesmo diz, na "Escola da Vida" que calarão fundo na alma do povo brasileiro, e irão refletir nos valores de toda uma geração.

"O PT fez, do ponto de vista eleitoral, o que é feito no Brasil sistematicamente." - sugerindo que o caixa dois não era nada de mais, em entrevista dada em Paris, em julho de 2005.

"Se tem um governo que tem sido implacável no combate à corrupção, desde o primeiro dia, é o meu governo." - em junho de 2005

"Eu levaria o José Dirceu para o palanque, até porque nada foi provado contra ele."- seis dias depois de o ex-deputado ter o mandato cassado por acusação de comandar o esquema de mensalão no Congresso, em dezembro de 2005.

O que quero saber não é só de onde veio o dinheiro. Quero saber quem é que montou a engenharia política para essa barbárie. Eu quero saber quem foi o engenheiro que arquitetou uma loucura dessa, porque, se um bando de aloprados resolve comprar um dossiê, é porque alguém vendeu." - sobre o falso dossiê para incriminar candidatos da oposição, em setembro de 2006

Quero fazer justiça ao senador (Fernando) Collor e ao senador Renan (Calheiros), que têm dado uma sustentação muito grande aos trabalhos do governo no Senado.” - em julho de 2009

Ele (Sarney) tem história suficiente para que não seja tratado como uma pessoa comum.

"Eles categoricamente disseram que isso era uma peça de ficção, que não existia mensalão dentro do Congresso Nacional. E pelo que consta, até agora, não foi provado que tem mensalão. Até agora, o que foi cassado, foi cassado porque contou uma inverdade sobre o Congresso Nacional." - negando o "mensalão", em novembro de 2009

"Imagem não fala por si." - acerca dos vídeos sobre o Governador Arruda, em 2009.

"Eu quero saber se o povo está na MERDA e eu quero tirar o povo da MERDA em que ele se encontra." - dezembro de 2009

Há 4 anos, o maior descalabro na nossa longa folha corrida de casos de corrupção foi minimizado pelo Presidente da República e varrido para baixo do tapete. O escândalo seguinte, em plenas eleições, foi ignorado pela população brasileira, entorpecida pelo Bolsa Família e desmotivada pela falta de carisma de Geraldo Alckmin. Nada é preciso dizer sobre os escândalos do Senado, abafados por Lula e com seus protagonistas afagados por ele. E, agora, até mesmo a oposição recebe sua magnanimidade.

Há algo pior que subestimar a inteligência das pessoas, ferir a língua pátria e, finalmente, violentar a compostura de um Chefe de Estado: é ser o mais estrondoso e visível mau exemplo de sucesso imoral e antiético da "história deste país".

A total falta de vergonha que o país assiste em Brasília é a ponta de um iceberg de lama que ainda pode mostrar coisas muito piores. Não estou falando de novas cenas patéticas de maços de dinheiro trocando de mãos e percentuais discutidos abertamente: falo da manutenção de uma candidatura a reeleição e da negação de um pedido de impeachment que certamente irão escandalizar o país e colocar a última jóia da coroa de Capital da Corrupção que já paira sobre a cidade. Mais que isso: falo da inacreditável possibilidade de reeleição de Arruda, contra os ditames da dignidade e do bom senso, e que significará não só a coroa para a cidade, mas arreios para a sua população.

A mídia discute a desfaçatez dos políticos brasilienses. Eu explico: por que não? Por que ter vergonha quando o supremo mandatário da nação não se constrange? Por que temer alguma coisa quando um povo reconduz e ovaciona alguém que, cercado pelo mar de lama, simplesmente alega nada saber, diminui o problema e defende os envolvidos? Para que a continência, quando os grandes baluartes da corrupção nacional, outrora inimigos figadais do grande sindicalista, ao serem flagrados e expostos à opinião pública, são aplaudidos e elevados pelo novo aliado, sem o menor apego aos ideais traídos? Que sentido têm os conceitos de verdade, palavra, honra, dignidade, moralidade, ética e respeito?

O grande destaque, a grande imagem do governo Lula não fica na pujança de uma economia mais forte ou no sucesso midiático internacional (manchado, inclusive, por nossa política externa completamente desastrosa e retrógrada). A maior contribuição de Lula para a nossa história foi a banalização da corrupção, a oficialização do fisiologismo, a institucionalização do aparelhamento político do Estado, a completa e absoluta desmoralização da classe política do país, o extermínio da esperança dos bons na superação de nossas mazelas culturais.

Lula afirma que irá tirar o povo da merda enquanto defeca sobre a Constituição, a Lei e a auto-estima daqueles que se orgulham de serem honestos. E, como se não bastasse, sem uma ponta de remorso, emporcalha descaradamente a dignidade do cargo para o qual foi eleito. Não basta para ele mostrar ao povo que a honestidade é descartável: tem de deixar claro que as instituições do país não são dignas de respeito nem nos aspectos mais comezinhos e tão básicos como os da boa educação.

Não chega a ser uma surpresa para um governo que já deu provas suficientes que não está nem aí para a educação: ano após ano, destrói ainda mais o nosso combalido sistema de ensino, favorecendo a ineficácia, a ideologia tendenciosa, o repúdio ao mérito, o nivelamento por baixo e, por que não dizer, fazendo apologia da ignorância.

Lula, ao ser eleito, se tornou um exemplo vivo da superação das dificuldades por um homem do povo. Agora, na medida em que seu mandato se aproxima do fim, parece querer enfatizar menos a superação e mais suas origens populares. Pena que para isso prefira se basear na figura pobre e ignorante de Jeca Tatu.

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02 março 2007

Legal pra quem?

O presidente da OAB-RJ defende a legalização das drogas como forma de combate ao crime (veja aqui). Afirma ele: "É uma forma de combate inteligente à criminalidade. O tráfico começa a perder sentido a partir do momento em que as drogas estejam legalizadas, estejam à venda em uma farmácia, por exemplo. A criminalização do consumo nunca teve muito sentido".

Em primeiro lugar, queria eu ver a conexão necessária entre descriminalizar o consumo e legalizar a droga. Uma coisa é não punir o usuário, partindo da hipótese que é uma vítima de si mesmo, ou que tem o direito de prejudicar o próprio corpo e arriscar a própria vida. Outra coisa é autorizar o comércio da droga, é liberar geral.

Imediatamente me vêm à mente as imagens das ruas de Amsterdã, as praças lotadas de viciados se drogando, "na paz". Nesse cenário, fico imaginando alguns jovens curiosos, que hoje temem subir o morro ou procurar a boca de fumo - sim, porque ainda há os que temem -, que agora poderão entrar numa farmácia e pedir uma dose, "só para experimentar". E olhe que a liberação lá é relativa...

Evidentemente irão dizer que a coisa não vai ser assim, que haverá controle. Claro que sim...

Vão vender em farmácia com tarja preta (dizendo "esta substâncias podem causar dependência" - que lindo...)? Só se for para criar um mercado paralelo de receitas. Em vez de dar poder para os traficantes dos morros e das periferias, irão transferi-lo para os maus médicos, gráficos, falsários e comerciantes de medicamentos. Pelo menos o nosso crime organizado será tão culto como o americano (ou mais), o que deve ser uma evolução... Como acredito que alguém com o mínimo de cérebro não vai fazer isso, conclui-se que, se é para liberar, para facilitar o acesso à droga por intermédio do mercado formal e enfraquecer o "poder paralelo" dos traficantes, a coisa tem que correr solta, qualquer um podendo comprar, desde que maior de 18 anos. Diga-se de passagem, a idade é um fator muito importante de controle, visto que hoje em dia não vemos mais menores fumando ou ingerindo bebidas alcólicas. Pelo menos eles estarão a salvo, não é?

Num país onde versões piratas de CDs, DVDs, programas de computador, anabolizantes, celulares e de tudo o mais circulam livremente, sendo até mesmo preferidas por grande parte da população, alguém pode me dizer por que isso não vai acontecer com as drogas? É claro que ao autorizar a venda do produto, o governo irá determinar padrões de qualidade (vai ser "da pura", não "da fervida"...) que irão encarecer o produto (e ainda tem a nossa "pequenina" carga tributária). Onde é que o povo vai comprar? No camelô, óbvio. De onde virá? Dos traficantes. Só vão acabar com o "aviãozinho"! Os cigarros paraguaios, sem "baixos teores" ou imagem soturna na embalagem, competem de igual para igual (se não ganham) com as marcas legalizadas. E com a cocaína vai ser diferente? Façam-me o favor...

É inacreditável como os líderes deste país parecem viver em outro mundo. Até a Alice do "País das Maravilhas" tinha maior visão do que acontecia à sua volta! Parece haver uma falta generalizada de percepção que não há controle social de nada. Nossos mecanismos de fiscalização são absolutamente falhos, ineficazes, beiram o ridículo (a não ser, talvez, a fiscalização tributária, porque esta interessa ao governo). Num país onde uma larga faixa vermelha com os dizeres "venda sob prescrição médica" é completamente ignorada pelas drogarias e consumidores, que sinais de trânsito fechados parecem invisíveis, que pessoas comuns disparam tiros na rua, que celulares funcionam em presídios e corruPTos são reeleitos, há quem pretenda fazer das drogas uma "coisa séria" pra acabar com a bandalheira? Sinceramente... Se a Suíça enfrentou problemas, o que acontecerá conosco?

Não acho a idéia da legalização de drogas absurda em si. Na verdade, pode ser a única forma real de evitar o tráfico (basta lembrar o período da "Lei Seca" nos Estados Unidos, que nunca funcionou e só fortaleceu os Sindicatos do Crime). Entretanto, enquanto esse país for essa BAGUNÇA, essas soluções "civilizadas" não poderão ser usadas por aqui. No dia em que conseguirmos PUNIR EFETIVAMENTE os criminosos, no dia em que houver JUSTIÇA nesta terra, no dia em que conseguirmos fazer valer as nossas LEIS, aí sim, podemos pensar em ser "inteligentes".

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12 fevereiro 2007

Crime e Castigo

Acabo de ler na VEJA os detalhes da história do bárbaro assassinato do menino João Hélio. A reportagem diz que tem de ser a gota d'água, o que sugere que se espera dos governantes uma resposta à altura da indignação. Eu pergunto: haverá resposta?
Nos indignamos com o mensalão, mas poucos foram punidos (e agora se fala em anistiá-los); Mais indignação com as falcatruas de Lulinha e quebras de sigilo e dossiês fajutos, mas tudo continuou igual; também nos indignamos - e como! - com o superaumento dos parlamentares, mas eles só voltaram atrás depois do Supremo derrubar a decisão dos líderes...

Um menino foi destroçado contra o asfalto, há semanas outro foi queimado vivo, famílias foram destruídas, mas eu temo pelas respostas que receberão. Basta encontrar os monstros responsáveis e condená-los? Condená-los a que? A ficar numa prisão onde terão teto, comida, banho de sol, celulares e até visita com relações sexuais? Isso até conseguirem algum tipo de benefício e voltarem às ruas?
Ah, não! Nesse momento muitos irão lembrar (e com absoluta razão, nem é preciso bola de cristal) que eles provavelmente não irão usufruir disto. O rígido "Código" da cadeia os condenará a uma morte cruel e dolorosa nas mãos de seus colegas de cela, sob o silêncio auspicioso dos carcereiros, que é a pena imputada àqueles que cometem crimes chocantes e "infundados" até para os próprios marginais.
Que maravilhoso país é esse, onde o cidadão honesto chega a contar com a justiça dos criminosos para aplacar sua indignação! Que luminoso futuro estará reservado a uma sociedade incapaz de punir efetivamente, que deixa as mentes distorcidas dos criminosos serem a única fonte de terror dos delinqüentes?

A própria VEJA enumera sete medidas para refrear a escalada da violência, incluindo a suspensão de benefícios e mudanças no tratamento dos "menores", mas não toca no cerne da questão, que abrange não só a perda brutal de uma vida inocente, mas todos os problemas que citei no começo deste texto: não fala em acabar com a IMPUNIDADE.

Só existe uma maneira de diminuir o crime: aumentar o medo de suas conseqüências para o criminoso. Aquela velha frasezinha dos desenhos antigos (quando se pensava em formar as crianças, e não torná-las consumidores): "o crime não compensa". No Brasil, isso já é piada, e não adianta indignar-se enquanto continuar sendo. Em vez de ficarem lá discutindo distribuição de cargos e aumentos de salário, em vez de discutirem um plano econômico fajuto que fatalmente irá dar com os burros n'água, precisamos que nossos legisladores se dediquem urgentemente a fazer um novo Código de Processo Penal e uma nova Lei de Execuções Penais. É preciso acabar com tanto recurso, apelação, postergação, enrolação... dispositivos tais que, enfim, só fazem alguém ser julgado depois que o fato foi esquecido, o que dá a idéia de impunidade (isso quando não evitam mesmo a punição). Prendeu, tem que ficar preso; prendeu-se, julgou-se; foi condenado... se ferrou! É preciso não só acabar com tanta condicional, indulto e progressão de pena como também que o ambiente carcerário seja realmente pior que o lado de fora, não importa em que condições miseráveis tenha vivido o preso. Um mendigo tem de preferir a fome na rua à prisão, e hoje isso não acontece. Quem entra no presídio tem de demorar para sair (dependendo do crime) e precisar rezar por isso desde o primeiro dia.

Prisão especial? Qual é? Para o pé-de-chinelo, aquela história de ficar parado, fumando unzinho, fazendo rap ou tomando alguém como "noivinha" tem que acabar. Que tal trabalho escravo? Doze horas por dia asfaltando estrada debaixo do sol; colheita de alguma coisa, economizando máquina (mamona, por exemplo); quem sabe batendo sizal, moendo brita ou ralando mandioca no lugar daquelas crianças que ficam sem escola? Tudo isso sempre proibidos de fumar e sem visitas íntimas. Bebida, sexo, briga, porte ilegal de celular? Mais tempo de pena.
Cama de metal, sem colchão pra queimar; comida sem sal, água potável (mas salobra)... TV no refeitório? Sim, por que não? Mas só programa religioso (pastor chato, padre chato, babalaô chato) e Ana Maria Braga - o Inferno. Sem pancadaria, sem pena de morte, só trabalho. E muito. Algo que faça o vagabundo sonhar com um salário mínimo.

Será que isso fere os "direitos humanos"? Acho que não. Em todo caso, se não me engano, eles são para HUMANOS. Quem arrasta um inocente no asfalto já perdeu essa condição. Acho que a Sociedade Protetora dos ANIMAIS e o Fundo Mundial para a Vida SELVAGEM (WWF) não devem se meter. Afinal, a espécie em extinção somos nós.

Update: Descobri que a Constituição veda a aplicação da pena de "trabalhos forçados". Não sei se estão sujeitas a esta definição atividades praticadas diariamente por milhares de brasileiros, incluindo crianças. Se em nações mais adiantadas os presos trabalham, acredito que a pena vedada tem um sentido bem mais restrito. Se der, voltarei ao tema em outra ocasião.

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29 dezembro 2006

Brasil possuído

Ando sumido. Estive ocupado com outros projetos, não tendo tempo para acompanhar o noticiário com a atenção necessária para não escrever besteiras. Levando em consideração os últimos acontecimentos, acho que posso me considerar abençoado...

Hoje viajo em férias. Como não sou tarado como o Reinaldo Azevedo (nem tão competente, evidentemente), vou continuar ausente. Pelo menos me resta o consolo de não ter de assistir à posse do Energúmeno-Mor, do Duba-Dubá, do Anhangá-Tinhoso, do Canho-sem-um-Dedo. Não sentirei ânsias ao ver aquela cara-de-pau a estampar sorrindo o deboche à inteligência, à dignidade, à honradez. Não precisarei contemplar a "queima" de um milhão de reais obtidos à custa dos impostos dos que suam a camisa para sustentar os néscios do governo os ainda mais néscios que os elegeram. Não serei obrigado a presenciar, ainda que à distância, o desfile de hipocrisia dos aliados apaniguados, dos traidores do povo, do séquito de duas-caras. Estarei livre do "Espetáculo da Democracia", transformada por este povo insano na Apologia da Indecência. Terei alguns dias para respirar um ar não conspurcado pela vergonha.

Mais cedo, a caminho do trabalho, deparei-me com uma faixa (para quem é de Brasília, está afixada no "Buraco-do-Tatu", sob a Rodoviária) com os dizeres:

"Lula, tome posse do Brasil!"

Descobri então que não elegemos - ou melhor, elegeram, porque eu não votei nele - um Presidente da República, mas sim um Dono do País. Em vez de se apontar um empregado (por que é isso que eles são, embora se recusem a admitir) do povo, foi escolhido um patrão? É mais uma prova do viés autoritário cultivado pelo PT. Pois eu não estarei dando a Lula a posse do país. Não só porque não estarei aqui para isso, mas porque não lhe dou direito sobre o Brasil. Não importa o quanto ele queira ser o todo-poderoso, ele terá de cumprir a Constituição. Estará a nosso serviço, incluindo "a Zelite" que ele tanto detesta (a menos que deixe cair a máscara e se revele o ditadorzinho que acalenta dentro de si). Mas não conto com isso. Para mim, daqui a três dias começam quatro anos sem presidente.

Até a volta!

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08 novembro 2006

"País do Contrário"

Os políticos brasileiros realmente têm um modo bastante peculiar de ver o mundo. Se o Japão é um país de contrastes, o Brasil é o país "do contrário". Onde temos que combater causas, atacamos as conseqüências. Por exemplo: em vez de gerarmos crescimento para aumentar o emprego e produzir renda, distribuímos esmolas para a população miserável; em vez de investirmos em medicina preventiva, gastamos(e mal) no tratamento de doenças que poderiam ser erradicadas com vacinação, saneamento, atendimento médico nas escolas, campanhas, etc.; em vez de aplicar-se recursos na educação pública de qualidade, propõe-se um sistemas de cotas (e ainda se faz disso uma bandeira racial, quando seria menos inadmissível se fosse social) e cria-se programas como o ProUni.

Todos estes problemas têm suas causas num histórico de desigualdade social e incúria administrativa e as pessoas envolvidas não se encontram diante de uma escolha particular. De nada adianta desejar trabalhar se não há oportunidade; a população carente não pode mudar suas condições sanitárias ou se vacinar, nem mudar a qualidade do ensino público. Isso é responsabilidade da sociedade, que ela delega ao Estado. Cabe a ele fomentar a economia e fornecer infra-estrutura, saúde e educação ou, no que couber, transferir à iniciativa privada, fiscalizando sua atividade.

Por outro lado, nossos políticos também gostam de atacar as causas onde deveriam atacar as conseqüências. E quando é isso? Quando as causas estão relacionadas com escolhas pessoais, trazendo responsabilidade aos envolvidos. Um exemplo é a famosa Lei n° 8.666/93, que regulamenta as licitações e contratos da Administração Direta. Esta lei transforma o processo num emaranhado de regras complicadíssimas e não raro torna as licitações verdadeiras guerras judiciais. Ao final do labirinto, o governo geralmente compra o mais barato dos concorrentes, mas quase sempre paga mais que no mercado e fica com um produto de qualidade inferior. No caso de ser algo tecnológico, muitas vezes demora tanto que fica obsoleto. Alguns casos escaparam desta sina graças aos pregões eletrônicos, mas a deficiência ainda persiste. E por que isso acontece? Por que tanta burocracia e controle? Para evitar que haja corrupção no processo de licitação. Para evitar que se roube! Por favor, contenham o riso...

A Lei 8.666/93 é um oceano de burocracia que só prejudica o governo e não atinge seu principal objetivo que é evitar a roubalheira. Se ela não ocorre, não é por causa da lei, mas porque seus usuários não querem (sim, há - e muito - funcionários honestos!). Mas a lei não pode ser simplificada, gerando economia para o Estado e maior qualidade daquilo que ele consome, porque os inescrupulosos iriam se fazer. CADEIA NELES! É isso que um país sério faz. O funcionário tem liberdade para agir, mas se agir mal... é cana: no presídio, sem cela especial, sem celular, sem TV e sem visita íntima. E cumprem a pena toda, porque liberdade condicional é para poucos. Mas nosso sistema jurídico é uma piada. Vocês acham que os norte-americanos são mais educados que nós? Que é por isso que compram jornal naquelas máquinas e só pegam um? Não, é porque se pegar dois e for apanhado, está em maus lençóis. Tentem convencer um policial americano a deixar de dar uma multa de estacionamento proibido dizendo "estou saindo"... Não vai colar. Por isso lá não é preciso colocar obstáculos nas calçadas para evitar que os carros subam.

Agora a nova pérola dos políticos é a identificação no acesso à Internet. Novamente querem complicar, prejudicar as pessoas sérias, para evitar o crime. A Internet já fornece, hoje, mecanismos para rastrear criminosos. Se eu colocasse neste blog uma foto com uma criança fazendo sexo, o Blogger saberia o IP que a mandou. Meu provedor saberia que login estava usando tal IP no momento da postagem. Bastaria um mandado judicial. Afinal, houve um crime, previsto pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Alguém poderá dizer que há entraves para obter as informações. Se houver leis, tratados internacionais e coisas assim, não haverão. E mandar spam com vírus? Não é crime? Que se mude a lei, então. E spam sem vírus? Pode ser contravenção. Se esses mecanismos não forem suficientes, não será pela identificação que se resolverá o assunto. Hackers continuarão a burlar o sistema, programas maliciosos continuarão existindo, capturando a identificação de pessoas para serem usadas pelos pedófilos e outros mal-intencionados.

A proposta faz lembrar o Plebiscito do Desarmamento, que iria coibir os cidadãos honestos sem poder controlar os criminosos. As armas por si sós não causam o crime, assim como o anonimato também não. O problema está no mau uso que se faz desses instrumentos, e isto continuará existindo, não podemos nos iludir que não. Todavia, da mesma forma que o desarmamento tornaria qualquer cidadão indefeso (mesmo aquele que nunca pensou em ter uma arma), a identificação seria um risco. Quanto tempo levaria para hackers obterem identificações e cruzarem dados, produzindo informações para criminosos? Seria também um golpe mortal na liberdade de expressão na rede. Quantos diriam o que pensam se pudessem perder o emprego ou ser perseguidos? E quem iria proteger o cidadão do Estado, num eventual arroubo totalitário?

"Os inocentes pagam pelos pecadores", diz o dito popular que mais reflete a injustiça. O princípio jurídico da intranscendência, que garante que a pena não deve passar da pessoa do criminoso contraria aquela noção distorcida que é a fonte de nossa burocracia, aquela montanha de papel que pretende barrar os "espertos" (e não consegue) e cria transtornos sem fim para o cidadão de bem e enriquece os cartórios no meio do caminho. A Internet é uma das poucas coisas que progride nesse país justamente porque nosso governo ainda não meteu o bedelho nela. Não se pode permitir que a demagogia e o controladorismo rastaqüera destruam o mais importante meio de comunicação da humanidade. Arrumem, isso sim, um jeito do Judiciário fazer o trabalho dele que todo o resto se resolve. A solução das mazelas deste país não está no controle totalitário, no fim da liberdade. Ela pode, na verdade, ser resumida a três palavras: "FIM DA IMPUNIDADE".

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07 novembro 2006

Tá difícil...

Estou tendo alguns problemas e não estou conseguindo postar. Vou postar alguma coisa hoje, mais tarde.

02 novembro 2006

A Lei e as urnas

No post anterior falei sobre minha descrença quanto à possibilidade de Lula ser cassado por crime eleitoral, em virtude do dossiê comprado para prejudicar os tucanos. Acho que isso é uma daquelas consolações que buscamos diante da tragédia. Costumo ser otimista, mas quando o otimismo confronta a realidade dou preferência à última. Quando alguns outros blogs propagavam a ilegitimidade das pesquisas, crucificavam o Datafolha e enalteciam o cenário dos trackings eu já desancava a campanha de Geraldo Alckmin e duvidava da vitória. Entrei para o time dos que "jogaram a toalha", mas a inaceitável vergonha que o Datafolha mostrava emergiu descaradamente das urnas.

Agora me vejo novamente diante da expectativa daqueles que ainda se recusam a acreditar que este país se rendeu à bandidagem. Admitamos ou não, houve, sim, uma rendição. Quer tenha sido pelo apoio ao erro, quer tenha sido pela omissão ante sua presença, quer seja pelo declarado apoio à esquerda inescrupulosa, quer seja pela inoportuna rejeição ao "conservadorismo das elites", houve uma escolha em que outros critérios foram privilegiados em detrimento da honestidade e do respeito à coisa pública. Tenha votado no PT ou se abstido covardemente pela via da justificativa (o jeitinho brasileiro de não cumprir o dever do voto) ou do voto nulo, o eleitor referendou a indecência administrativa.

É neste país que se deseja desfraldar a bandeira da legalidade como se ela fosse sobreviver incólume aos eflúvios pestilentos que se imiscuem nos corredores dos poderes? Não será apenas pelo apreço à justiça que uns poucos bastiões da honestidade conseguirão preservá-la do acintoso eco das urnas. Para contrapor-se às urnas será preciso algo que acenda o clamor público, ainda anestesiado com a ilusória alegria da vitória. Será preciso algo contundente, que não sucumba facilmente às falácias habilmente urdidas pelos mestres da desfaçatez.

Assim, primeiramente é preciso achar provas que demonstrem, sem sombra de dúvida, que a foi campanha do PT à Presidência da República que usou dinheiro ilícito para adquirir documentos para uso eleitoral. Se o rastro acabar na campanha de Aloizio Mercadante, candidato derrotado, como deseja o PT, nada acontece. Nesse caso, poder-se-ia especular numa vingança do bigodudo ("não descerei ao inferno sozinho", teria dito), mas é improvável. Esse mesmo tipo de afirmação foi atribuída a Zé Dirceu e nada aconteceu. A falta de provas concretas não só inviabiliza uma ação efetiva do TSE, já propenso a abdicar da polêmica, mas confere a qualquer iniciativa nesse sentido a pecha de "golpe". E no terreno pantanoso da corrupção, achar prova exige muito empenho.

Permito-me agora incorporar a personagem do inesquecível Francisco Milani (humorista fantástico, apesar de comunista até a raiz do cabelo) na Escolinha do Professor Raimundo. Com o seu bordão "pedra noventa só enfrenta quem agüenta", Pedro Pedreira exigia as provas mais estapafúrdias dos fatos históricos, como plano de vôo do 14-Bis ou atestado de óbito de Jesus Cristo. Tal como ele, pergunto: "- Recibo assinado por Vendoin, em nome do candidato ou de funcionário a seu serviço direto, tem?"; "- Gravação com a voz do candidato ou pessoa diretamente ligada à campanha presidencial falando, sem ser por códigos sobre o dossiê, tem?" "- Então não me venha com xurumelas!"

Tirando o exagero próprio da personagem, quero dizer com isso que o TSE não irá reverter os rumos da história baseado em indícios e testemunhos ("a prostituta das provas"). E quem poderá produzir as provas consistentes? A Polícia Federal ? A mesma que anteontem intimidava os repórteres da Revista Veja? É daí que devemos esperar as provas do delito eleitoral? Quem sabe da CPI das Sanguessugas e seus "detetives" experimentados, ainda mais quando a legislatura está no fim?

Mas vamos ignorar a falta de empenho da PF e supor que seja revelada uma prova irrefutável do envolvimento do comitê de campanha de Lula (e, segundo a lei eleitoral, dele mesmo, sabendo ou não). Terá o TSE força para fazer prevalecer a lei contra a vontade das urnas? Ou irá preferir se esconder atrás do argumento que o procedimento não alteraria o resultado do pleito? Seria a instituição do Judiciário forte a ponto de enfrentar o risco de comoção de um povo acostumado a relativizar a Lei?

É justamente na desconfiança quanto a tal maturidade que encontro motivos para não nutrir muitas esperanças.

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Encarando a realidade

O que será pior? Ver o candidato de sua preferência perder ou ver aquele que você detesta ganhar? Não, não estou querendo ressuscitar o debate sobre a responsabilidade da vitória de Lula, mas sim saber se o que dói mais é perder o troféu ou engolir o sapo. Eu me enquadro no segundo caso. Nunca estive no primeiro, porque nenhum candidato à presidência que tenha tido chance me empolgou, exceto Fernando Henrique Cardoso na segunda vez, e nesta Lula não deu nem por cheiro. Não gostava de Collor, não confiava em FHC antes (ele era de esquerda, lembram?) e sempre tive profunda antipatia por José Serra (talvez se ele "se achasse" menos...), mas eram eles ou o analfabeto socialista militante. Alckmin me agradava, mas não dava pra ser fã. Sua vitória não era o que me importava, mas sim a derrota da esquerda, fosse ela a totalitária e corrupta (Lula), a radical retrógrada (Heloisa Helena) ou a inteligente mas incompetente (Cristovam Buarque). Alckmin era o anti-Lula. Se, em vez dele, o candidato fosse ACM Neto, eu votaria do mesmo jeito, desde que escorraçasse o safado. Não ver o facínora ser derrubado e, ao contrário, ser reconduzido com aparente júbilo (60% dos válidos, mas só 46% do total) foi arrasador.

Não que não fosse uma tragédia anunciada. Bastava assistir um programa do Geraldo para ver que a coisa ia mal. Quando ele dizia que "a candidatura cresceria quando começasse a propaganda eleitoral", acreditava porque para mim ia ser a época de refrescar a memória dessa gente estúpida sobre todas as malandragens. Ficava só imaginando as imagens com recortes de jornais e revistas, as fotos de Zé Dirceu e Roberto Jefferson sendo carimbadas com "cassado", e por aí vai. Mas, cadê? Tome restaurante, tome escola técnica... É como um parente próximo hospitalizado. Você se preocupa, mas fica esperando uma reação.

Veio o dossiê. Era a "Miriam Cordeiro" da nova era! (Para quem não lembra, ela foi a ex-namorada de Lula que denunciou que ele não dava a mínima para sua filha Lurian, propondo seu aborto - e hoje ele a paparica com carros oficiais e dinheiro para ONGs... - e a denúncia foi utilizada por Fernando Collor para arrasar os votos de Lula). Deu segundo turno: é agora! Alckmin descobriria as vantagens terapêuticas da lama em quem merece. Debate quente na Band e... queda nas pesquisas? O parente foi para a UTI. É aquela hora em que todos sabem o que vai acontecer, mas todo mundo se nega a ver. O médico só diz "vamos aguardar...". Ele está falando do óbito, mas a família acha que é da cura. É o instinto de sobrevivência da sanidade: o consciente nega, o subconsciente vai aceitando. A Macabra virá. Consternação do consciente, até que se escute o subconsciente dizer "eu já sabia".

Quem já viveu a morte de um ente querido sabe que entre a notícia e a aceitação transitamos numa espécie de limbo da realidade. Esperamos acordar do pesadelo, cogitamos se não teria sido um ataque cataléptico, imaginamos se não houve um engano, desejamos negar até compreendermos que infelizmente aconteceu. Passada a vitória de Lula, nos pegamos a "encontrar saídas". Haverá o impeachment. O dossiê lhe cassará o diploma. Algum mais apaixonado pode até imaginar um "Lee Oswald" encarapitado em um ministério no dia da posse, mas isso não dá nem pra comentar. Só se fosse para entronizar de vez a esquerda no papel de "vítima da zelite".

Nada mais sadio para a mente e para a cidadania que acreditar na justiça, nas instituições. Mas é preciso não tirar os pés do chão. As urnas nos deram um prova que quase a metade dos brasileiros ou não se escandaliza mais ou se considera refém do assistencialismo governamental. Não será qualquer escandalozinho que irá repetir com Lula o destino de Collor. Collor presidia uma nação menos anestesiada contra a corrupção e sua política econômica foi um desastre. O único tiro com que prometera acabar com a inflação errara o alvo. A fruta estava podre. Lula, que sobreviveu ao Valerioduto e à GameCorp segurando a inflação e "expulsando" o FMI não cairá com qualquer brisa.

Já acreditar na punição pelo crime eleitoral, esta sim uma hipótese concreta, esbarra no fato que para isso a Justiça Eleitoral terá de reverter um fato consumado aos olhos do mundo, e que isso exige uma maturidade institucional que ainda não pude perceber neste país. Além disso, para que possa ao menos cogitar fazer isso, será preciso uma prova cabal, inequívoca, quase flagrante do envolvimento da campanha de Lula com o dossiê. Preciso falar? Vou deixar isso para outro post.

Não se trata aqui de abdicar pela luta pela legalidade contra a impunidade. Trata-se de não se deixar cegar por esta única (e minúscula) janela. A luta maior é desestruturar o mito. Lula cresceu e se fortaleceu em meio à perseguição. Esse foi o seu estrume. Sabemos que o PT é dado a fazer o nó da própria forca. Temos que estar prontos para puxar a corda antes que ela fique rota. Ao contrário da morte, que é permanente, o mandato é temporário. O desafio é não deixar que ele perca essa característica, como aconteceu em Cuba e na Venezuela. É não permitir que a manipulação seja a mola mestra de 2010. Ajudar Lula a desconstruir a si próprio nos conduz a um objetivo mais importante que abreviar seu mandato: puni-lo justa e definitivamente com a pena mais cruel: condená-lo ao ostracismo.

Do luto à luta

Refeito do golpe(ops!) e com mais tempo, vou tirar o luto e retomar o discurso. A vida continua.

29 outubro 2006

Luto

Este blog estará de luto por 3 dias, pela confirmação da morte da dignidade, executada pela gente ignorante (ainda que letrada) deste país.

Neste ínterim, deixo todos com a frase lapidar de Ruy Barbosa, patrimônio intelectual do Brasil, proferida quando de sua derrota para o Marechal Hermes da Fonseca, na eleição presidencial de 1910:

"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto."

Quase 100 anos depois, alguém que faria Hermes da Fonseca parecer um doutor de Harvard vem, com sua vitória, confirmar que este país é uma lástima. Mesmo durante os anos do governo militar e depois dele, mesmo durante a hiperinflação e a era Collor, nunca disse o que digo agora: Eu tenho vergonha de ser brasileiro.

28 outubro 2006

Ainda dá tempo?

No último post desanquei a campanha de Alckmin. Pode ter sido até culpa de seus marqueteiros, mas é o candidato o responsável por concordar ou não com as propostas.
Alguns podem me criticar dizendo que não deveria criticar Alckmin neste momento, que estou ajudando Lula. Pensei sobre isso antes de postar. Mas, se debates em rede nacional não conseguem desviar o eleitorado dessa rota de colisão com uma montanha de excrementos, que dirá esse reles blog de 4 visitas por dia... sem contar que campanha ruim não é motivo para alguém mudar de candidato. Isso é coisa de gente superficial, e tenho pra mim que os superficiais já estão com Lula.

Mas esse post é para dizer que finalmente fiquei satisfeito com um debate. Não foi a saraivada que eu desejava a princípio, mas confesso que o resultado foi muito bom. Acho que desejava a saraivada porque queria algo como uma vingança, algo tipo quebrar a perna do artilheiro (se bem que nesse quesito, Lula está mais para Maradona, que faz gol com a mão (mão grande, inclusive) - detesto essas metáforas futebolísticas, que me lembram o Apedeuta, mas elas insistem em aparecer.

Alckmin foi beneficiado com as regras do debate: o tempo curto para as respostas não deixava ele falar demais, como de costume, e não dava margem para os malabarismos de Lula. Lula não fica a vontade quando não pode falar o que quer, e isso atrapalhou seu jeito malandro de ser (e de governar, com a malandragem do lado - e não falo da malandragem de Moreira da Silva, que me perdoe de onde estiver). Com isso, foi Alckmin que teve as boas tiradas. A Lula coube apenas a vontade de esfregar o dedo nas fuças do outro (nada difícil, é verdade). A melhor da noite foi ver Lula se defendendo da privatização da Amazônia. Nada como provar do seu próprio remédio, não é?

A alegria fica. O difícil é confrontar a realidade que pode ter sido em vão. Mas vou cuidar de manter a esperança viva! Se puder mudar um voto amanhã, eu o farei!

Antes de dormir:

Nas garimpagens da noite, entre blogs e comentários, bom mesmo foi o texto/áudio do Grix Fronte, sobre o valor do voto. Recomendo ler, ouvir e guardar para reler toda vez que sentir vontade de desistir e anular um voto ou coisa pior.

(Finalmente um post curto!)

27 outubro 2006

Cachorro morto não se chuta?

A esperança é, sem dúvida, a derradeira força do ser humano. Ela resiste, quando tudo é adverso. Não a abandono, mas não posso deixar de dar ouvidos à realidade que não apenas bate, mas esmurra à minha porta, me esbofeteia no rosto, gritando: "Esse país não tem jeito!"
Essa realidade me mostra que foram feitas escolhas erradas. Não falo da escolha de Alckmin. Ao contrário de muitos, não desejava José Serra (votei nele na eleição passada porque era o adversário de Lula, mas não é do meu estilo). Preferia Aécio Neves, mas ele é muito esperto para se queimar assim (na verdade preferia alguém decente, mas esses não se metem com isso). Para mim, apesar de ter ganhado no 1° turno em SP, Serra também não levaria, se sua campanha fizesse as mesmas escolhas. E que escolhas foram essas?

A primeira escolha aconteceu antes da eleição, quando todos acreditaram no triunfo da decência neste país. Não quiseram fazer de Lula um mártir operário (tal como aconteceu com Collor em diversos segmentos, que alegam que ele foi deposto sem provas porque queria "mudar o país"), mas deixaram o tempo curar as feridas abertas pela traição de Roberto Jefferson. Se encolheram atrás de seus próprios pecadilhos e deram trégua ao barbudo. "Não se chuta cachorro morto", certamente pensaram, sem reparar que era um lobo que apenas dormia (ou fingia).

Como disse, não questiono a escolha de Alckmin. Ele estava atrás de Serra nas pesquisas, mas sabemos que um BOM marketing elegeria até a Marta, a mãe-megera da novela "Páginas da Vida", vivida por Lílian Cabral. Também não vou destilar aqui a teoria da conspiração, o propalado acordo com o PT loteando esta eleição e a outra. Afinal, o PSDB não nasceu ontem. Quem, em sã consciência, iria fazer um acordo clandestino com a cúpula petista, reconhecidamente formada por mentirosos e golpistas de carteirinha? Se Lula desse uma banana para Serra e Aécio, o que iriam fazer? Vir a público denunciar? Seria um suicídio político dos dois, do partido inteiro! Alckmin foi escolhidi porque peitou o partido e, principalmente, proque estava disposto a enfrentar Lula. Provavelmente era da turma que estava vendo o cachorro morto. FHC e companhia talvez já tivessem percebido que era lobo, e pensaram: "o que vier é lucro". E lá foi Alckmin de "boi de piranha".

Peraí! Então eu estou dizendo que ele já estava derrotado antes de começar? Não. Estou dizendo que Alckmin não tinha uma vitória fácil pela frente, como muitos (inclusive eu) pensavam quando o mensalão estourou. Naquela ocasião, achei que até o Enéas ganharia de Lula. Como eu já disse, julguei os outros por mim. Achei que a esmagadora maioria dos brasileiros tinham vergonha na cara e colocariam isso em primeiro lugar. Não elegeram o Lula, que a lógica apontava como incompetente, porque era honesto? Com aquele escândalo ele "estava no sal". Mas De Gaulle tinha razão...

Ao subestimar a "blindagem" de Lula, a aura protetora que ser o mito do "homem simples que chegou lá" lhe concedia, Alckmin escolheu o caminho errado para sua campanha. Em vez de fragilizar esta blindagem com fogo contínuo, preferiu ignorá-la. Confiou no julgamento ético do povo e se dedicou a fazer uma campanha para prefeitura: promessas, obras, a imagem de trabalhador. Esqueceu-se que a classe política, seja de esquerda, direita ou centro (que aqui são aqueles que ficam no meio da balança e escorregam para o lado que estiver melhor), está completamente desmoralizada. Se um cidadão honesto se candidata, imediatamente recebe a pecha de oportunista. Por isso, promessas e obras não mais cativam eleitores. "Ele vai esquecer tudo depois de se eleger...", pensam os votantes. Nesse caso, o candidato à reeleição leva vantagem, porque ele só precisa dizer que continuará fazendo. Se o povo comprar essa idéia (mesmo que mais da metade ele tenha feito perto das eleições), fica fácil. Já a imagem de trabalhador não diz muito. Afinal, em 2002 elegeu-se alguém que passou 13 anos sem fazer absolutamente nada.

Alckmin tinha como bordão "Por um Brasil decente", mas seus programas eram superficiais para falar na indecência. Achavam seus assessores que o povo se lembrava do mar de lama petista ou pensavam que martelar a idéia seria contraproducente? Faltou inteligência na campanha de Alckmin para abordar o problema de um forma nova, que não fosse a simples repetição de escândalos. Por que não explorar as contradições do governo Lula com sua campanha? O que disse e depois disse o contrário durante as crises? Por que não mostrar escândalos em países desenvolvidos e como o povo reagiu na urnas? Deveria ter explorado a vergonha de um povo em reeleger corruptos, mas preferia "falar do futuro". Acabava por transmitir a idéia que tinha telhado de vidro.

No fim das contas, sua campanha teve uma sobrevida graças a uma fenomenal burrada de seus adversários. Tão incrivelmente burra que até uma conspiração parecia plausível. Lula foi associado à mentira, à corrupção, o momento certo para reavivar a memória. Isso foi feito? Uma única vez. E voltou-se atrás com o rabo entre as pernas ante a primeira reação do adversário, que paradoxalmente acusou um erro onde houve acerto. Alckmin defendeu o passado? Não. preferiu descolar-se dele, como se fosse um passado sujo.

A campanha de Alckmin foi uma pregação aos convertidos. Arrisco afirmar que, no dia 29, salvo se um milagre nos salvar, ele receberá os votos dos que já haviam decidido votar nele. Os que o conheceram e confiaram durante a campanha recuaram diante de tamanha apatia. Se depois de tudo que aconteceu, Lula ainda se mostrava competitivo nas pesquisas (muito antes da campanha começar), estava evidente que o povo não tinha uma percepção realista do seu governo. Gostando ou não, concordando ou não os letrados com seus métodos, Lula manteve a inflação baixa, manteve a cesta básica estável e o país não quebrou (cresceu pífios 2%, mas não regrediu, o desemprego não ficou mais gritante do que estava). O povo não pode entender as implicações macroeconômicas do câmbio, da dívida pública ou o superávit primário. Querer que o povo compare com o crescimento do PIB da China (Pibe? Mas o que é pibe?), que saiba o que é Taxa SELIC (taxasselique?) é demais, para uma gente que não sabe nem o que é porcentagem. Povo não sabe o que são commodities! E foi contra esse "bem sucedido" (hahaha) presidente que Alckmin decidiu destilar toda sua competência. Tome saúde! Tome (pasmem) segurança! Tome crescimento! O tecnocrata contra o manipulador. A lógica fria contra o fanatismo e a ignorância.

O desafiado escolhe as armas. Lula escolheu a emoção e a mentira. Alckmin não soube manejá-las e nem voltá-las contra o oponente. Ele pode ter desejado dar uma lição de decência, mas o que melhor ensinou foi como não fazer uma campanha para a presidência.

22 outubro 2006

Velho, me arruma 100 reais?

Há, no Brasil, uma visão completamente distorcida da função do Estado. Basta haver qualquer problema e você ouvirá alguém dizer: "O governo precisa fazer alguma coisa!". Claro que em muitos casos a necessidade de intervenção do governo é óbvia, mas o que chama a atenção é a intenção dos que clamam pelo Estado: não querem a sua proteção, mas sim a sua generosidade.

Não se espera no Brasil o Estado regulador, que zele pelas leis, pelo direito dos cidadãos, mas sim um Estado paternal, que provenha as necessidades materiais da população. As pessoas agem como aqueles filhos marmanjos que relutam em arrumar um emprego e querem viver às custas dos pais a vida inteira.

Muitos fatores levam os filhos a este comportamento, e normalmente reside nos próprios pais uma boa parte da culpa. Pais que proporcionam uma vida confortável aos filhos sem exigir deles nenhuma contrapartida (respeito, dedicação aos estudos, satisfação de seus atos e submissão às conseqüências destes, enfim: responsabilidade) acabam criando filhos preguiçosos. Claro que a personalidade dos filhos influi, mas nesse caso "fechar as torneiras" é uma saída que qualquer pai sabe, a não ser como ouvi certa vez uma senhora justificar o dinheiro que dava ao filho, dizendo: "tenho medo dele roubar...". Desnecessário comentar a convicção dela quanto ao arcabouço moral que ofereceu à criança.

Da mesma forma tem agido o Estado brasileiro desde a sua criação, em 1822. No Império, evidentemente, como em qualquer monarquia do século XIX, o Estado não era do povo, mas da Família Real, e vivia para favorecer aos nobres. O povo ficava com migalhas, quer para massagear o ego dos governantes, quer para evitar uma revolta incômoda (a acalentada "indole pacífica" de nosso povo nunca deu margem à preocupação de uma revolta perigosa, à exceção, talvez, da Revolução Farroupilha). O mesmo aconteceu na República Velha, até que Getúlio Vargas veio para tirar o "jejum" do povo. Ele se tornou o "Pai dos Pobres" e criou a imagem de Estado que persiste até os dias de hoje: um governo que ajuda, que cria dependência, que não investe na erradicação das causas, mas no abrandamento das conseqüências. Um governo que deseja uma relação feudal: o senhor e seus vassalos.

Desde então, o povo quer o Governo bancando tudo. O Estado, como não deve visar lucro, fará o melhor para a população, como se lucro e bem estar fossem conceitos necessariamente antagônicos. Este é o Grande Dogma da Esquerda: a satanização do lucro.

Quando Karl Marx demonizou o capital como meio de exploração dos trabalhadores, era o início da Revolução Industrial e o Estado como uma síntese do povo não existia. Sem esse elemento regulador, não havia como fugir do abuso e a filosofia era "Lucro 100 X 0 Homem". Mas se o Estado cumprir seu papel de vigilante dos direitos do povo, o lucro é a mola-mestra do progresso. Esse é o conceito de um Estado Moderno, um conceito que a esquerda, cristalizada no século XIX, se recusa a entender. Insistem no monopólio estatal que, sem lucro e sem concorrência, nada tem a perder. Se nada tem a perder, por que investir em eficiência? Se o cliente (o povo) não tem opção, de que adianta reclamar? E todos fingem que são felizes... é isso?

Que lugar melhor para proliferar uma idéia dessas que numa terra onde se cresce ouvindo que dinheiro e pecado andam juntos, que trabalhar para "ganhar o pão com o suor do rosto" é o castigo de Deus aos homens por terem desobedecido a Ele, e que "é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha que um rico entrar no Reino dos Céus"? Aqui, a maioria quer ficar rica na moleza, ganhando na loteria para parar de trabalhar, com uma ponta de remorso porque ficar rico é comprar uma passagem para o inferno.

Enquanto isso, nas nações desenvolvidas acredita-se que o trabalho foi o meio dado pela Misericórdia Divina para a redenção do homem, e que a riqueza honesta é resultado da riqueza de bençãos. Ter dinheiro não é pecado, isso depende do uso que se faz dele. As pessoas são admiradas por sua capacidade de ganhar dinheiro (e execradas quando meios ilícitos de conseguir são revelados). Lá, o mérito é reconhecido, enquanto aqui as pessoas de valor tem que ser modestas. Se destacar demais significa isolamento social.

Lá, o Estado existe para exercer, principalmente, o poder de polícia (não é à toa que esta palavra tem origem semelhante a política, e não é pelo motivo que a petralha consagrou recentemente); para fiscalizar, fazer leis que representem a vontade do povo e exigir seu cumprimento. Existe para garantir os direitos, como a igualdade de oportunidades, com educação para todos, por exemplo. Para isso recolhe impostos de todos, prestando serviços para todos.

Aqui não. Acá, o "bonito" é todo mundo ser "igual", é distribuir a pobreza, é depender do "Grande Irmão" que zela por todos, sem inveja, sem cobiça (e a preguiça, onde fica?). Assim se faz a apologia da mediocridade e fica-se a sonhar com o progresso, sonhar com a riqueza, sonhar com o bem-estar social. Como o filho preguiçoso, se sonha com a herança que se dilapida a cada dia. Afinal, ficar sonhando também sai de graça... ou não?

Quem vota em Lula?

Quando os escândalos estouraram no ano passado, pensei que era o fim. Não o fim de Lula, não o fim do partido, porque sei que a nossa justiça não é exatamente a mais rigorosa do planeta. Além do mais, havia aquela história de "preconceito contra o operário", as teorias conspiratórias (como esta última da Carta Capital) que iriam botar panos quentes. Eu pensei isso sim, que era o fim da arrogância petista, o fim do patrulhamento, a destruição da imagem de "salvadores da pátria".

Um ano depois, mal consigo acreditar: o fanatismo, as bandeiras vermelhas, o patrulhamento continuam. Menos intensos, é verdade, mas descabidamente presentes diante da demolição dos valores tão cultuados pelo partido (o que me leva a uma conclusão, mas isso eu falo outro dia). Não que eu esperasse que todo mundo deixasse de ser petista (embora quisesse), mesmo porque não sou radical a ponto de achar que não existe gente decente no PT, mas que a coisa ficasse mais "normal", até tímida. Talvez seja porque eu tenho vergonha na cara. Não deveria pressupor que os outros vão agir como eu agiria...

Hoje vejo o noticiário, as pesquisas, os adesivos nos carros e tento entender o que está acontecendo. Tentei encontrar o motivo das pessoas votarem em Lula. Só consegui pensar o seguinte:

1. Os apaniguados: a grande maioria deste tipo é petista (filiada ou não) ou ligada a um. Ocupam um cargo na administração atual e evidentemente não querem perdê-lo. Outros receberam algum tipo de benefício profissional ou corporativo deste governo e se sentem em dívida ou esperam mais. No primeiro caso eu até poderia entender: para a grande maioria, é difícil pensar em ética quando a sobrevivência ou o conforto está em jogo. Mas há aqueles que têm plena condição de se manter fora do governo: profissionais capacitados, inteligentes. Estes me causam revolta. Estão vendendo sua moral por uma situação de conforto, às vezes, só para trabalhar menos (ou nem trabalhar, nos piores casos). Eles e os do segundo caso compactuam com o parasitismo nas tetas do governo. E pensar que a maioria deles dizia que isso era nojento quando quem mamava eram outros...

2. Os idealistas sectários: acreditaram a vida toda em Lula como a promessa viva do socialismo, do governo operário e de outras bobagens de um século atrás. Pararam no tempo, se duvidar ainda têm calafrios quando vêem um milico, talvez guardem retratos do Ho Chi Minh e do Fidel. Aceitar que aquele Lula morreu e no lugar dele há um político igualzinho aos outros é demais para suas frágeis mentes obcecadas. O pior cego é o que não quer ver. Destes até dá pra sentir pena.

3. Os que têm fobia a FHC: funcionários de estatais ou empresas públicas privatizadas odeiam Fernando Henrique, principalmente os que não tinham competência para continuar empregados quando a iniciativa privada assumiu. Seus colegas das empresas que ainda são do governo temem que suas empresas sejam as próximas. Insegurança quando se pode ir para a guilhotina é natural. O que é ridículo e fingir que a preocupação é que o governo venda barato. Estão todos se lixando pro "patrimônio do povo" - se ligassem estariam preocupados com o rombo que algumas destas empresas fazem no orçamento. Outros efeagacefóbicos são os funcionários públicos de categorias sem peso na estrutura, que amargaram 8 anos sem aumento e não querem isso de novo (só que esquecem do 0,1% de aumento que Lula lhes ofereceu, a retirada da aposentadoria integral - que ele tentou, mas não conseguiu, apesar de prometer que não faria - etc.). Fora esses, a maioria dos opositores de FHC estão nos dois tipos anteriores. Os que não estão, estão votando nulo. O que eu não sabia é que FHC era candidato. Se não me engano, quem concorre é o Alckmin, contra a vontade de Fernando, que preferia o Serra. Alckmin é da "banda jeca" do PSDB, não foi exilado nem preso durante a ditadura, embora fosse moço demais na época que a coisa era "quente".

4. Os "beneficiados": os pobres coitados que recebem Bolsa Família e outras esmolas. Estes tem medo de perder os benefícios e se tornaram peões de Lula na sua sanha de perpertuar-se no poder. Será que os recebem de favor, e não por estarem enquadrados nos requisitos? (Suponho que devam existir requisitos, ou a bagunça é pior ainda?) Lula chama isso de "fazê pela gente pobre do Brasiu o que zamais fffoi fffeito na hisstória defe paiz"; eu chamo de compra de votos. Por outro lado, sei de gente que parou de cuidar da lavoura ou deixou o emprego porque recebe a Bolsa e não precisa mais trabalhar. Isso é benefício ou incentivo à indolência e à mendicância?
De qualquer modo, não posso culpar essa gente sofrida, que cresceu ouvindo dizer que trabalho é castigo, que ache em Lula um "redentor". Eu acho que ele está mais pra serpente. Até sibila!

Até aqui eu entendo os motivos de cada um. Não concordo, mas reconheço. Quantos eleitores se enquadram nessas categorias? Não sou bom em procurar estatísticas, por isso vou chutar: um milhão? Vou ser mais otimista: que sejam 10 Milhões. Isso é menos de 10% do eleitorado. Ainda que dobremos, o que sobra daria a vitória a Alckmin. Por isso o ultimo perfil é para mim o mais intrigante de todos: são aqueles que não têm motivo pra votar em Lula. Não são petistas, não são intelectuais (nem não-intelectuais) de esquerda, não têm cargo, não recebem benefício e nem foram prejudicados por FHC.

Será que acham que Lula faz um bom governo? Não entendem que Mensalão, dólares na cueca, filho beneficiado, Land Rover, Valerioduto, Caixa 2, malas de dinheiro, sanguessugas, compras de dossiês não permitem a ninguém fazer um bom governo? Que o Brasil tem uma carga tributária de 40% e juros nas alturas porque, entre outras coisas, o desvio de dinheiro aumentou? Acham que um governo que apóia um candidato na Bolívia que prometia estatizar o petróleo e o gás, contra os interesses brasileiros é bom? Ainda mais quando o sujeito cumpre a promessa? É possível achar bom que, depois disso, nosso presidente justifique a atitude do outro e ainda mantenha relações amigáveis com ele?

Talvez esses eleitores achem que são todos iguais. Iguais?! Não sou louco de afirmar categoricamente que Alckmin é honesto. Neste país, não podemos atribuir tal virtude a um político tão descuidadamente. Mas também não tenho motivos para afirmar que ele é desonesto. Mas e quanto a Lula? Se o critério é honestidade, o Presidente da República é como "a mulher de César": não bastava ser virtuosa; deveria parecer virtuosa. Ainda que Lula fosse um presidente desinformado como "nunca se viu na história deste país" (sendo portanto, o maior néscio que já ocupou o Planalto), ele teria perdido sua aura e, sem ela, não poderia ser reconduzido. Se todos forem desonestos, votemos no que ainda não provou isso. Ou não elejamos o que já provou que não é capaz de ver nada que não lhe seja colocado em frente numa ficha de papel.

No próximo domingo iremos votar. Talvez a reeleição se confirme. De qualquer jeito, vou passar os próximos anos tentando entender o que passa na cabeça desse povo.

20 outubro 2006

Nunca fui Lula

Pensei duas vezes antes de escrever este post. Achava que isso poderia trazer uma imagem de parcialidade indesejável para que gosta do debate. Refleti, porém, que nos assuntos que quero abordar neste blog não há espaço para uma imparcialidade absoluta. A política, querendo ou não, é um território de escolhas, uma pessoa séria sempre escolhe um lado.

Por outro lado, não me identifico com o fanatismo. Não sou aquele tipo de pessoa que pensa: "quem não está comigo, está contra mim". Sou capaz de identificar aspectos positivos ou atitudes corretas nos meus adversários, bem como reconhecer os defeitos daqueles a quem dou meu apoio. Meu posicionamento resulta, como da maioria das pessoas, da minha percepção de mundo, da minha ótica, meus valores e, evidentemente, meus interesses pessoais, que não posso negar, ainda que tente diminuir sua importância no meu julgamento. Nessa consciência que não estou acima do certo e do errado, que tenho limitações humanas, reside a minha isenção.

Explicado isso, por que nunca fui Lula? Decidi começar com este tema porque ele vai pautar tudo que eu disser daqui pra frente. Ser avesso à sua candidatura desde 1989 é diferente de ser mais um desiludido com sua política econômica, com a reforma da previdência ou com o mensalão. Eu jamais acreditei em Lula como um caminho para o Brasil. Votei em seus adversários em todas as cinco eleições que participou. Quer dizer que sempre fiz oposição sistemática a ele? Não. Sou contra a oposição sistemática. Me oponho ao que contraria minhas convicções. Se eu concordar com a idéia, não importa de quem seja, apoiarei. Então por que nunca dei a Lula um "voto de confiança", como a grande maioria de seus eleitores fez na eleição passada, quando "A esperança venceu o medo"? Vou dizer agora:

Primeiramente, sou sofocrata. Acredito num governo de pessoas estudadas(cultas), inteligentes, esforçadas e vividas, exatamente nessa ordem. Acredito no mérito como único fator de avaliação para o progresso pessoal. Quem se esforça para ser melhor que os outros merece ficar na frente. Se tiver um dom especial, ótimo! Mas tem que usá-lo na proporção que o tem. Se alguém tira 10 sem estudar, deve ficar na frente de quem tira 9, mas atrás de quem tirou 10 estudando. Aplico isso na minha própria avaliação: sempre fui bom aluno, notas ótimas, mas gostava muito de ver TV, enquanto tinha colegas também ótimos, melhores, que estudavam à beça. Se hoje vejo um deles melhor que eu, penso: "devia ter visto menos TV". Mas se quem está na frente era um daqueles colegas picaretas, acho uma injustiça. Nesse aspecto, Lula, com seu primário incompleto mesmo com 13 anos (1989-2002) para se preparar é uma afronta a todos que passaram mais de 15 anos se preparando para ser alguém. Muitos dizem que isso é preconceito. Eu chamo de mau-exemplo. Aos que acusam tal discriminação eu peço que digam a seus filhos naquela idade em que as prioridades são outras que sem estudo eles não serão ninguém e esperem a resposta: "E o Lula?" que eles entenderão o que estou dizendo.

Em segundo lugar, Lula sempre foi socialista. Não posso dizer que sou um capitalista convicto, pois isso seria dizer que é um sistema excelente. Prefiro dizer que até agora não inventaram nada melhor. Nenhum sistema se adapta melhor à meritocracia que ele, enquanto o socialismo, com a idéia de "todos devem ser iguais", pretende trazer a "igualdade" à força. Todo mundo é semelhante, sim. Todo mundo é humano, tem defeitos, tem qualidades, precisa comer, morar, vestir-se, ter dignidade. A lei deve ser igual para todos, também. Mas as pessoas não são iguais. Há o talento, o empenho. Quem se esforça mais, quem procura ir além, quem aprende a usar seus dons sempre consegue mais, e assim deve ser, desde que obtido de forma honesta. Não podemos simplesmente tirar de quem alcança o sucesso para distribuir gratuitamente aos mal sucedidos. Os bem sucedidos devem, sim, colaborar, mas para dar oportunidade a todos de descobrirem no que podem ter sucesso e no fornecimento de condições de investir nisso. A melhoria de vida, a distribuição de renda deve ser fruto do esforço, e não a obra de um Robin Hood canhestro. Mas as experiências socialistas nunca são assim. Gente como Lula acredita que deve "cobrar a conta das elites". Querem cobrar das pessoas de hoje pelos erros da sociedade no passado.

Finalmente, havia o PT. Aquela convicção que estavam certos e o outros, errados; aquela intolerância às opiniões divergentes; o patrulhamento, o abusos sindicais, o comportamento de Hooligans, a torcida irracional, a visão estatista (com a finalidade única e exclusiva de manter o emprego, principalmente por aqueles que não demonstravam o menor apego institucional); a admiração por "democratas" como Fidel Castro e, claro, a idolatria a um boçal como Lula tornavam a convivência com eles insuportável. Eu seria contra Madre Tereza de Calcutá se ela fosse petista (aliás, era bem capaz deles dizerem que ela seria, se conhecesse o partido).

Por essas razões, apedeutismo+socialismo+petismo, eu jamais desejei Lula como presidente do meu país. Hoje, ainda que seu governo tivesse sido um primor de honestidade, eu votaria em seu adversário. Prefiro um médico capitalista liberal. Mas tal preferência não me faria criar um blog para protestar. Sou capaz de entender que um povo privado de escolas não se importe em ter um presidente ignaro. Sou capaz de engolir que a falácia do socialismo atraia os menos favorecidos sem oportunidade. Sou capaz de aceitar que um povo acostumado a fanáticos por futebol e religião não se irritasse com os exageros do PT. Mas nunca admitirei a escolha pela corrupção. Não posso suportar que o mundo veja que, mesmo sabendo que seu presidente ao menos consentiu com o roubo, com a indignidade, com a mentira de forma tão avassaladora, que ainda assim o reconduza ao poder. Que dirá se ele participou!

Em 2002 resignei-me com o resultados das urnas. Sou democrata. O povo escolhera o baixo nível intelectual por um alto nível ético. Queria uma nova forma de fazer política. Mas, se a ética ruiu, onde está a razão? Aceitei a inocência. Jamais aceitarei a exaltação do crime!

19 outubro 2006

O Porquê deste Blog

Esta é minha segunda investida para manter um blog. Em meu blog anterior eu desejava ser mais eclético, e acho que isso comprometeu um pouco o resultado e fiquei desmotivado.

Agora, minha estupefação com os rumos deste país, minha surpresa diante das escolhas de nosso povo, minha revolta com as justificativas estapafúrdias daqueles que defendem o indefensável me deram força para esta nova empreitada. A esperança de que ainda subsista alguma sanidade nesta terra alienada ainda se mantém, mas o meu (infelizmente) infalível senso lógico aponta na derrocada final da dignidade. Por isso, decidi que não verei os valores que recebi desde minha infância (honestidade, verdade, respeito, honra, trabalho, sabedoria, cultura...) sucumbirem ao oportunismo, à mentira, à ganância, à falta de vergonha sem lutar. Não sou profeta para recorrer à velha imagem do pregador solitário no deserto, mesmo porque não estou sozinho neste embate: ainda há gente lúcida neste país, mas aqui irei dizer o que penso. Não desejo convencer ninguém, mas apenas deixar, em cada post, uma semente para reflexão por aqueles que não se deixaram entorpecer pelas falácias dos manipuladores da verdade.

Com este espírito inauguro este blog, onde fincarei minha pequena bandeira contra a vergonha nacional. Aqui tentarei dar minha contribuição à divulgação da verdade em que acredito, sempre com respeito à divergência, desde que respeitosa. Tentarei prosseguir com este objetivo, esperando ansiosamente o dia em que o nome deste blog deixe de representar a realidade.

Àqueles que desejarem me agüentar, agradeço.